quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Freio de mão:: Míriam Leitão

Na Europa, comemora-se o que foi evitado, como a crise bancária da Itália, no final do ano passado, pela ação do novo presidente do Banco Central Europeu. No Brasil, o que se lamenta são os obstáculos não removidos, como os que impedem o crescimento da indústria, que há quatro anos tem alta de apenas 0,5% em média. Toda vez que o país cresce um pouco mais, tem que puxar o freio de mão.

O autor da avaliação é o economista José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados. Ele continua achando que o ano pode ser melhor do que o que passou, mas lembra que há riscos na Europa e inexplicáveis atrasos no Brasil na área econômica:

- O italiano (Mario Draghi, novo presidente do BCE) conseguiu em dois meses o que o francês (Jean Claude Trichet, antecessor no cargo) não havia conseguido: deter o processo de contágio. No final do ano, o mundo parecia à beira do colapso. Agora, há sinais animadores. Draghi assumiu baixando os juros e aumentando a oferta de capital. Hoje já se sabe que nenhum cliente do BCE vai quebrar por falta de liquidez.

O outro italiano de mesmo nome, o primeiro-ministro Mario Monte, também já fez a diferença, mas não resolveu a crise.

- A Itália está reduzindo o déficit público, mas, se não houver crescimento, o país podem cair num populismo de esquerda ou de direita - disse José Roberto.

Ele acha que a agenda hoje na Europa é de ajuste com crescimento. O ajuste apenas só tornará as economias mais anêmicas; os incentivos ao crescimento não podem ser dados sem o ajuste, do contrário, agrava-se a crise de confiança dos governos endividados. Como resultado das políticas de expansionismo monetário do BCE, a moeda vai se desvalorizar:

- O euro vai se desvalorizar, é inexorável, e isso pode aumentar a competitividade dos países europeus. O problema é que tudo o que foi feito até agora não garante que a moeda está garantida. Se alguém disser que o euro vai quebrar, não tenho muitos argumentos contra. Há pelo menos três a quatro meses de muito desafio pela frente.

No dia 28 de fevereiro haverá a segunda rodada de empréstimos do BCE para os bancos. O Banco vai começar a aceitar papéis de maior risco como garantia para financiar os bancos, na esperança de que eles continuem rolando as dívidas dos países.

- Costumo dizer que o BCE já está quase aceitando como garantia tíquete-refeição e vale-transporte. A grande vantagem é que até agora a maior prioridade de todos os países é manter o euro - disse.

José Roberto define a Grécia como um caso perdido. Acha que ela não sai do euro agora, mas que em algum momento deixará a unidade monetária. Portugal estaria a meio caminho. Está na desconfortável situação de ser o segundo da fila, mas o país tem chances de se recuperar pelos estreitos laços que tem com o resto da Europa, seja em investimentos, mercado de trabalho, relações econômicas.

O Brasil não tem o problema de excessivo endividamento que aflige países europeus, e este ano vai crescer entre 3,3% e 3,5%, mas não está bem, diz José Roberto:

- O PIB da indústria cresceu apenas 0,5%, em média, nos últimos quatro anos e isso porque o país não está conseguindo aumentar a capacidade de competição da indústria. A demanda cresce e os non-tradables (produtos que não podem ser importados) aumentam o preço. Há três ou quatro anos que a inflação de serviços está acima de 7%, e no ano passado ficou em 9%. Na indústria, o aumento da demanda é coberto pela importação de produtos, componentes, peças, máquinas. A economia não está conseguindo aumentar a oferta e isso pelas velhas dificuldades de superar os obstáculos. O Brasil continua com um problema de oferta.

José Roberto está falando dos velhos e conhecidos gargalos - alto custo dos impostos que incidem sobre a folha salarial, logística deficiente, falta de trabalhadores, pesada carga tributária, custo de energia:

- As lideranças empresariais vão a Brasília atrás de caramelos fiscais, em vez de lutar por reformas que vão recriar a competição. Pedem e conseguem a mesma coisa dos anos 1950, como, por exemplo, o conteúdo nacional. O governo ainda não entendeu que a revolução que houve agora foi do software. Um pedacinho do governo faz esforços na direção certa, mas é minoritário. A gente procura quem inova e sempre encontra as mesmas empresas: Natura, Embraer, Petrobras; não sai muito disso. E para todo problema, as empresas pedem uma solução estatal. Estabelece-se, por exemplo, que a Petrobras tem que comprar com 65% de nacionalização. Seus fornecedores não conseguem atender, e a produção de petróleo não cresce.

Os Estados Unidos começam a melhorar lentamente:

- O mercado imobiliário já melhorou em Nova York e em Miami. No segundo, com a ajuda de brasileiros. O crédito voltou a crescer. A McKinsey detectou que na média o endividamento caiu, apesar de algumas famílias terem quebrado irreversivelmente. O desemprego vai cair devagar. Mesmo com o conflito no Congresso, os Estados Unidos vão crescer de 2% a 2,5% - diz José Roberto.

FONTE: O GLOBO

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