Técnicos do governo preveem que meta de 4,5% de Dilma dificilmente será alcançada. Efeito dos estímulos vai demorar
Martha Beck
BRASÍLIA. Embora a presidente Dilma Rousseff esteja determinada a fazer o que for necessário para assegurar um crescimento de 4,5% para a economia em 2012, nos bastidores, os técnicos da área econômica já admitem que essa meta dificilmente será alcançada. Os cenários até agora indicam que, na melhor das hipóteses, o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos) crescerá 3,5% este ano. Os mais pessimistas preveem menos de 3%.
Os técnicos do governo consideram que as medidas adotadas para estimular a atividade econômica estão no caminho certo - como a redução da taxa básica de juros pelo Banco Central (BC) e a agenda para derrubar os spreads bancários - mas essas iniciativas têm efeito a longo prazo, extrapolando 2012.
- O que está sendo feito, desde o fim de 2011, tem um prazo para mostrar seus efeitos completos sobre a atividade. Isso significa que, mesmo que algum resultado apareça em 2012, a economia só vai crescer como se quer a partir de 2013 - previu um técnico da área econômica.
Um sinal negativo para 2012, que desanimou o governo, foi o desempenho da produção industrial em janeiro - queda de 2,1%. Nas contas dos técnicos, o PIB do primeiro trimestre deve crescer 1,5% em relação aos três meses anteriores, mas, para chegar aos 4,5%, as taxas teriam que ser bem mais altas nos trimestres seguintes.
Eleições municipais dificultam estímulos
Por isso, o governo estuda medidas para incentivar o crescimento. Nos planos estão a ampliação da lista de setores favorecidos pela desoneração da folha de pagamento, incluindo autopeças, têxteis, plásticos e móveis.
O governo também deve prorrogar a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para artigos da linha branca (fogões, geladeiras, máquinas de lavar e tanquinhos), com encerramento previsto para o fim de março.
Para incentivar os investimentos do setor produtivo, a equipe econômica deve fazer uma nova capitalização no BNDES. O valor ainda não foi definido, mas, segundo os técnicos, não deve ultrapassar R$ 30 bilhões. Em 2011, o banco de fomento recebeu R$ 55 bilhões do Tesouro Nacional. Além disso, o Ministério da Fazenda e o BC têm ordem para não deixar o câmbio continuar prejudicando a competitividade da indústria nacional e, por isso, novas medidas de controle ao ingresso de capital estrangeiro no país devem ser adotadas.
A previsão de crescimento de 3,5% em 2012 já foi repassada a parlamentares que acompanham a execução orçamentária. Os técnicos analisam que houve desaceleração muito acentuada em 2011 - crescimento de 2,7% do PIB contra 7,5% em 2010 - e que a recuperação levará tempo, não sendo possível saltar para um crescimento de 4,5%, por exemplo.
As eleições municipais de outubro também restringem algumas iniciativas que o governo poderia adotar para estimular a economia. A partir de junho, ficam suspensos repasses de recursos do Orçamento às prefeituras e a assinatura de convênios para obras nos municípios, por exemplo.
Ou seja, serão tocadas obras já existentes e não projetos novos. Essa distorção - que acaba inibindo os investimentos novos - já é apontada por especialistas como um problema de gestão orçamentária grave, que prejudica os investimentos diretos do governo.
FONTE: O GLOBO
Nenhum comentário:
Postar um comentário