domingo, 8 de abril de 2012

É o medo da especulação:: Celso Ming

A primeira qualidade de um bom estrategista é identificar a principal ameaça e, em seguida, atacá-la com eficácia. Lutar em várias frentes ao mesmo tempo e com inimigos diferentes quase sempre leva ao fracasso. É o que o governo Dilma parece ignorar.

Seus ministros se espalham, mais ou menos atarantados, e se dedicam a armar artilharias particulares contra inimigos secundários ou até imaginários. Às vezes tudo se resume a uma grande guerra cambial, como a identificada pelo ministro Guido Mantega. A presidente Dilma Rousseff não vê nenhuma guerra a enfrentar, mas um tsunami monetário, espécie de catástrofe provocada pelos grandes bancos centrais.

O ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, por sua vez, revela duas obsessões: atacar a concorrência predatória (chinesa) ao produto brasileiro e neutralizar pretensos estragos provocados pelo capital especulativo.

Contra esse último item propõe operação abrangente e radical: taxar com IOF toda e qualquer venda de moeda estrangeira no mercado interno. Se depois for comprovado que esse capital veio para gerar riquezas e empregos, a proposta é devolver ao investidor os recursos tomados. O importante para o ministro é que toda a entrada de capital seja de longo prazo.

O problema aí é achar que a ameaça se concentra no capital especulativo, perigoso quando uma economia não tem reservas externas – como o Brasil no passado. Hoje, a economia brasileira está defendida por colchão de US$ 365 bilhões.

Ou o capital especulativo opera no curtíssimo prazo ou não é especulativo. É de sua natureza chegar, morder, tirar proveito imediato do que pretende e, em seguida, ir embora. Quando entra no País, o capital especulativo ajuda, sim, a provocar sobrevalorização do real (baixa da cotação do dólar), tão temida pela indústria por lhe tirar competitividade. Mas, ao sair, produz o efeito contrário. Se o fluxo de capitais especulativos é relativamente grande, todos os dias há um entra e sai de moeda estrangeira, cujo efeito líquido sobre o câmbio tende à soma zero – e não uma decorrente valorização constante do real.

Montar uma megaoperação destinada a evitar ou afugentar capitais especulativos é, em primeiro lugar, eleger o inimigo errado. E, em segundo lugar, implica consumir grande quantidade de energia em políticas artificiais.

Em princípio, não haveria nada de especialmente errado em adotar uma política econômica "diferente de tudo o que está aí" – como exigia o PT do Congresso de Olinda, de 2001. Mas é preciso que seja consistente.

A atual política econômica do governo Dilma é reativa. Há apenas dois meses não se importava nem um pouco com o esvaziamento da indústria. De repente, entendeu que virou caso para chamar os bombeiros.

A nova política do governo tende a contra-atacar ameaças esparsas com providências improvisadas. O sujeito ficou ansioso demais? Meta-lhe Lexotan. Ficou sem sono? Aplique-lhe doses fortes de Rivotril. Passou a tossir demais, injete-lhe antibióticos na veia.

Esses são procedimentos que tentam atacar sintomas, não fortalecer o organismo; ao contrário, tendem a criar novos desequilíbrios.

CONFIRA

O investidor voltou a ver com desconfiança os títulos de dívida da Espanha. Passou a exigir rendimentos (yields) ainda mais altos.

Abalo justificável. Esse abalo tem a ver com alto desemprego (de 23,3% em janeiro); incapacidade de derrubar o déficit público de 8,5% do PIB para 5,3%; e vulnerabilidade dos bancos.

Vem mais por aí? Mostra também que a injeção de 1 trilhão de euros no sistema pelo Banco Central Europeu não está revertendo a crise. O que virá agora?

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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