Os empresários pisaram no freio de seus gastos em máquinas, equipamentos e instalações físicas
As instituições financeiras que acompanham de perto o pulsar da economia brasileira vêm revendo para baixo suas previsões para o crescimento do PIB em 2012.
Uma série de dados decepcionantes, divulgados nos últimos dias, provocou esse movimento. Até mesmo as vendas no varejo -embora ainda cresçam a uma taxa real de 6% ao ano- foram atingidas.
O consumo das famílias -que corresponde a dois terços do PIB- se junta assim à queda importante dos gastos das empresas com itens ligados ao investimento. Por isso essa nova onda de pessimismo com o crescimento econômico neste ano.
A média das previsões já está abaixo dos 2%, com os mais pessimistas apontando uma taxa de 1,5% como o número mais provável. As atenções dos analistas estão se voltando agora para 2013.
Se a fraqueza da economia permanecer por mais tempo, não será possível manter as previsões de crescimento econômico acima de 4% para o próximo ano. Mas essa ainda é a aposta majoritária entre as instituições financeiras e consultores independentes.
Esta primeira metade do ano tem sido um período de grande perplexidade na comunidade de economistas. Afinal, quais as causas de uma desaceleração tão rápida em um ambiente de queda vigorosa dos juros e crescimento real, acima de 10%, da massa de salários no Brasil? Como o saldo do comércio externo brasileiro - que está sofrendo com a crise internacional- tem pequena influência direta no nível de atividade econômica, temos que buscar no mercado interno as causas dessas mudanças de humor.
O primeiro e mais importante vilão está sendo certamente o investimento privado, que vem apresentando uma queda de mais de 8% nesta primeira metade de 2012.
Os empresários pisaram no freio de seus gastos em máquinas, equipamentos e instalações físicas. E não parecem dispostos a voltar às suas compras muito cedo.
Dois fatos chamam a atenção dos analistas nessa questão. De um lado o pessimismo internacional com o estado da economia mundial e a possibilidade de uma depressão econômica nos próximos meses. Do outro, as condições favoráveis para investir no Brasil, com os juros de mercado a níveis muito baixos e a existência de linhas de crédito abundantes e baratas nos bancos oficiais, principalmente no BNDES.
Mas, como ensinou Keynes, em momentos de pânico e de sumiço do chamado espírito animal das mentes dos empresários não existem estímulos que os faça mudar de atitude. E -infelizmente- essa crise de desconfiança em relação ao futuro chegou às empresas no Brasil.
Aliás, essa insegurança em relação ao futuro é a marca mais grave do momento em que vivemos.
Confesso a meu leitor que demorei mais do que devia para entender essa questão. Este meu erro de avaliação está certamente associado ao fato de que tenho uma posição otimista sobre as economias do mundo emergente e cínica em relação à crise na Europa.
Como já escrevi várias vezes, estou velho demais para acreditar no colapso do capitalismo, mesmo considerando os erros cometidos e que nos levaram à crise atual. Mas essa avaliação não é a opinião dominante hoje nos chamados mercados. Pelo contrário, a dinâmica dos preços dos principais ativos financeiros hoje é de que o colapso está iminente e dificilmente será evitado.
Dou um exemplo: os títulos de dez anos do Tesouro americano estão sendo negociados hoje a uma taxa de juros de 1,5% ao ano. Isso para um país que tem uma taxa de inflação histórica de 2% ao ano. Ou seja, quem está comprando esse papel está contratando uma perda de pelo menos 5% no período de seu investimento.
Por outro lado, se tomarmos uma média das previsões de lucro em 2013 para as ações do índice S&P da Bolsa de Nova York e os preços de hoje, o retorno esperado será de mais de 8% ao ano. Só a descrença em relação ao futuro, ou melhor, a certeza de que os resultados das empresas serão muito piores do que as previsões é que pode explicar essa situação esdrúxula de hoje.
Enquanto essa convicção prevalecer, os investimentos no Brasil vão continuar a deprimir nosso crescimento, não importando os estímulos que o governo colocar à disposição das empresas.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 69, engenheiro e economista, é economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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