Os ministros da Fazenda e do Desenvolvimento insistem em declarar que o segundo semestre do ano vai mostrar uma forte reação, que permitirá um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) superior ao do ano passado. Já na metade de agosto nada justifica esse otimismo.
É patente o contraste entre a visão dos ministros e a do mercado. Pode-se dizer que o mercado não dispõe das informações de um ministro da Fazenda - o que é duvidoso, pois a Pesquisa Focus, divulgada a cada semana pelo Banco Central, é fruto de um questionário amplo respondido por empresas financeiras com equipes de economistas de larga experiência, que dispõem de fontes de informações na administração pública. Claro que o mercado pode errar, mas ele reflete um leque de opiniões respeitáveis.
Faz quatro semanas seguidas que o Relatório do Mercado apresenta alguns dados sobre a inflação, o crescimento do PIB e a produção industrial que contrastam totalmente com os discursos oficiais.
No último desses relatórios divulgados, a previsão para a taxa de inflação oficial (IPCA), que quatro semanas atrás era de 4,87%, no dia 10 atingiu 5,11%. É preciso levar em conta que essa elevação inclui a pressão de produtos agrícolas que têm origem nas operações do mercado futuro estrangeiro. Não é esse, no entanto, o único fator que o mercado está levando em conta, pois está consciente também de que, passadas as eleições municipais, dificilmente deixará de haver uma elevação substancial do preço da gasolina.
Não é só esse indicador que mostra uma deterioração das perspectivas econômicas. Há quatro semanas, o mercado admitia um crescimento do PIB de 1,90%, já bem inferior às previsões oficiais do governo. Mas no dia 10 de agosto essa previsão caiu para 1,83%. Conjugando essas duas previsões (inflação mais PIB), o mercado futuro dos juros se mostra de acordo com essas perspectivas.
Apesar das medidas adotadas pelo governo em favor da indústria, o mercado, que quatro semanas atrás previa um aumento de 0,09% da produção industrial, hoje admite uma queda de 1% neste ano.
Somente com relação ao balanço de pagamentos as opiniões são relativamente positivas. A previsão de déficit da conta de transações correntes baixou de US$ 65 bilhões para US$ 59,25 bilhões, graças a uma elevação do resultado da balança comercial em razão da alta de preço das commodities agrícolas. As previsões do mercado podem estar erradas, mas deveriam pelo menos moderar as dos ministros.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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