Devido à greve dos servidores federais, a Controladoria-Geral da União cancelou auditorias em 36 municípios que receberam repasses do governo federal, como Bolsa Família ou verba para merenda escolar. Com o cancelamento, só 24 de 60 municípios sorteados passarão pelo pente-fino que busca "inibir a corrupção" entre gestores.
Greve de servidores afeta agora até a fiscalização do uso de verbas federais
Controladoria-Geral da União decide cancelar auditorias que seriam feitas em 36 municípios
Governo Dilma passou o dia ontem avaliando a possibilidade de conceder reajuste ao menos a alguns setores
Kelly Matos, Natuza Nery e Flávia Foreque
BRASÍLIA - Após provocar transtornos em portos, aeroportos e estradas, o movimento dos servidores federais por melhores salários passou ontem a afetar também até a fiscalização do uso de verbas da União.
Em portaria publicada ontem, a CGU (Controladoria-Geral da União) anunciou o cancelamento da auditoria que seria feita em 36 municípios "em razão do movimento grevista dos servidores".
Com isso, apenas 24 de 60 cidades sorteadas pela CGU passarão pelo pente-fino, que busca "inibir a corrupção entre gestores de qualquer esfera da administração pública".
O programa de auditorias -que incluem inspeções in loco- fiscaliza recursos de programas como o Bolsa Família, o Pronaf (de estímulo à agricultura familiar), de subsídios a merenda e transporte escolar e de financiamento de ações de saúde.
Também são fiscalizadas obras que tenham verba federal. Os relatórios são enviados a órgãos como Tribunal de Contas da União, Ministério Público e Polícia Federal.
Até este ano, 1.941 municípios haviam sido fiscalizados. Segundo a CGU, 20% das falhas detectadas são "graves".
Ainda que a greve acabe, os municípios excluídos ontem não voltarão a ser avaliados agora, já que haverá novo sorteio em setembro. São feitos quatro sorteios ao ano.
Funcionários da CGU fazem operação-padrão desde 8 de agosto, segundo o Unacon Sindical (que representa servidores do órgão e do Tesouro Nacional). Eles querem reajuste salarial de 22%.
"A Dilma centralizou tudo nela, a gente não consegue conversar com ministros de cada área. Isso complica muito", criticou o presidente da entidade, Rudinei Marques.
Proposta
O governo passou o dia ontem reunido avaliando a possibilidade de apresentar proposta de reajuste a setores ainda não contemplados.
Pela manhã, Dilma Rousseff havia orientado seus ministros da área econômica a tentar encontrar sobra no Orçamento do próximo ano.
Houve ao menos três encontros. Em um, Dilma mandou que a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, retornasse com novos cálculos.
Se optar por dar algo, a tendência é haver uma proposta de reajustes escalonados até 2015. Após os encontros, o governo não descartava nem a possibilidade de reajuste zero, tampouco a de aumento global para garantir o poder de compra do servidor.
"Multa zero"
A onda de protestos, iniciada em maio, atinge cerca de 30 categorias.
Ontem, líderes grevistas da Polícia Rodoviária Federal decidiram orientar os policiais para que, a partir desta semana, atendam só acidentes de trânsito com vítimas.
A categoria ainda queria deixar de aplicar multas. Alertado sobre a "operação multa zero", o governo avisou que a reação seria enérgica, e o sindicato recuou.
Ontem, policiais federais fizeram protesto na Superintendência da PF em São Paulo. Eles planejam doar sangue hoje, o que, pela lei, permitiria a falta ao trabalho.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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