No médio prazo, os bancos e consultorias sempre acham que o Brasil vai crescer 4,5%. Há pouco mais de um ano, era esse o número que as 100 instituições ouvidas pelo Banco Central previam que seria o crescimento do PIB brasileiro de 2012. Ontem, as projeções anunciadas ficaram em 1,81%. Como despencou? A previsão anterior é que não tinha qualquer sustentação.
A incapacidade de pensar a médio prazo é crônica no Brasil, seja no governo, nas empresas ou até em departamentos de bancos e consultorias que foram organizados para fazer isso, com algumas exceções. Funciona assim: o mercado está convencido de que o crescimento potencial do Brasil está entre 4% e 4,5%, por isso qualquer número no futuro fica dentro dessa faixa.
Se os departamentos econômicos ouvidos pelo BC tivessem somado a natureza da crise externa com o imobilismo do governo para tocar adiante investimentos e a falta de apetite para uma agenda de reformas, poderiam dizer, há um ano atrás, que 2012 não seria de bom crescimento. Esse curtoprazismo tem um preço. Alimenta a tendência governamental de empurrar com a barriga, convencido de que, no médio prazo, estaremos salvos.
Em termos de crescimento do PIB, 2012 é ano perdido. Vai crescer bem menos do que no ano passado. No começo de 2011, os mesmos bancos e consultorias previam que a indústria teria crescimento de 5% em 2012. Agora estão prevendo queda de 1%.
A produção de bens de capital, um indicador de investimento, caiu 12,4% no primeiro semestre. Os desembolsos do BNDES caíram 16% em 12 meses até maio. O governo investiu no primeiro semestre só 18% do que poderia. O "Valor" de ontem disse que as estatais, sem incluir a Petrobras, investiram 19,7% do que poderiam. O "Estado de S.Paulo" fez uma conta diferente: US$ 95 bi de investimentos adiados por grandes empresas, incluindo a Petrobras.
O país investe menos porque vai crescer menos, e assim cresce menos porque não investiu. O governo pensa que basta anunciar pacotes e adicionar declarações otimistas de ministros.
O mundo vai continuar dando dor de cabeça durante muito tempo porque esta é uma crise longa. Os pacotes sequenciais não estão ajudando. Agora o governo tem dito que prepara medidas mais estruturais. Neste espaço tenho batido nessa tecla faz tempo: necessidade de medidas que favoreçam a economia como um todo, não apenas alguns setores, e a importância de destravar investimentos.
Há alguma razão para que o governo não conceda à iniciativa privada o aeroporto do Galeão, já que quebrou o tabu com os aeroportos de Guarulhos, Viracopos e Brasília? No pacote que a presidente Dilma está preparando, segundo a "Veja" desta semana, será dado um "choque de capitalismo" no país. Que ela se apresse porque está quase chegando à metade do seu mandato.
FONTE: O GLOBO
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