A política econômica do governo Dilma persegue vários objetivos simultâneos, alguns deles incompatíveis entre si. Os ajustes adotados não vêm mudando substancialmente o coquetel de políticas. Mas os resultados vão ficando comprometidos, porque se anulam, pelo menos em parte.
A meta aparentemente mais importante é a de garantir o crescimento econômico de alguma coisa entre 4,0% e 5,0% ao ano. Para isso, foi mobilizado um leque de providências.
Da atual política monetária (política de juros) e do crédito se espera que mais dinheiro em circulação acione o consumo e a produção. A política fiscal assegura um mínimo de sobra de arrecadação para pagamento da dívida (superávit primário) capaz de abrir espaço para a queda dos juros. As reduções ou isenções tributárias e a política de rendas (mais generosos reajustes salariais) devem contribuir para a expansão do consumo. E a desvalorização do real (política cambial) mais os pacotes de subsídios e de reservas de mercado (política industrial) procuram compensar a falta de competitividade do setor produtivo paralisado pelo alto custo Brasil.
Os resultados mais positivos foram o fortalecimento do consumo e a queda do desemprego a níveis recordes. Mas o crescimento da economia continuou nanico, apesar da forte derrubada dos juros básicos (Selic), de nada menos que 4,5 pontos porcentuais em 12 meses, para os atuais 8,0% ao ano.
O governo ainda aposta todas as suas fichas em que a aceleração da produção virá ainda neste semestre e que prevalecerá ao longo de 2013. Mas, mesmo que esse efeito aconteça, será preciso ver até que ponto será sustentável. Mesmo com o empurrão oficial, o investimento se mantém insuficiente para frutificar atividade produtiva duradoura dessa ordem.
Embora não venham ajudando a puxar pela atividade econômica, a desvalorização cambial, o consumo mais do que robusto, o afrouxamento monetário e a situação de quase pleno emprego dificilmente permitirão o cumprimento do outro objetivo: o da inflação na meta, como o Banco Central vem prometendo desde agosto de 2011. Para este ano e provavelmente ainda mais em 2013, a inflação apontará mais para perto dos 5,5% em 12 meses do que para perto dos 4,5%.
Há alguns meses, o governo Dilma ainda contava com os efeitos da crise externa sobre a inflação, sobretudo com o achatamento das cotações das commodities. Essa previsão furou.
Como aconteceu em 2011, é provável que o governo Dilma não se importe demais com a escapada da inflação. Argumentará que este é o preço a ser pago para garantir mais emprego e mais crescimento econômico.
Tomara que o governo possa ver cumpridas suas expectativas de aceleração da atividade produtiva. No entanto, pesam contra elas o excesso de timidez com que enfrenta o custo Brasil, agora engrossado pela alta do custo da mão de obra e dos componentes e matérias-primas importados.
Nesta terça e quarta-feira, dirigentes do Copom se reunirão para rever os juros. Asindicações são de que o processo de expansão de moeda (baixa dos juros) vai continuar. Como o Banco Central não deu nenhuma indicação de que reforçará a "parcimônia", é mais provável que se decida por mais um corte de meio ponto porcentual, para juros de 7,5% ao ano.
Qual é o número? A divulgação no relatório do Ministério da Fazenda e depois o expurgo das projeções do crescimento econômico do Brasil decididos ambos pelo Ministério da Fazenda mostram que o governo Dilma não tem projeção confiável para o avanço do PIB.
Depende do vento. Isso significa que os números da Lei de Diretrizes Orçamentárias e os do próprio Orçamento da União não passam de estimativas sujeitas a mudanças a qualquer momento.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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