Ao julgar o ex-ministro José Dirceu, o relator do processo do mensalão, Joaquim Barbosa, deverá destacar os favores prestados à ex-mulher do petista pelo operador do esquema, Marcos Valério.
Para o relator, os favores, um emprego e um empréstimo, reforçam o elo entre Dirceu e Valério. A defesa do petista diz que Dirceu desconhecia tais fatos
Para ministro do STF, favor a ex-mulher incrimina Dirceu
Relator do processo deve apontar favores como prova de ligação com Valério
Psicóloga arranjou emprego em banco, conseguiu empréstimo e vendeu apartamento a operador do esquema
Rubens Valente, Flávio Ferreira
BRASÍLIA - O ministro Joaquim Barbosa, relator do processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), deverá apontar os favores prestados pelos operadores do esquema a uma ex-mulher do ex-ministro José Dirceu como uma prova decisiva do seu envolvimento com o mensalão.
Na fase de instrução do processo, Barbosa e seus assessores fizeram vários questionamentos à Polícia Federal e à Procuradoria-Geral da República para esclarecer detalhes sobre os favores prestados à ex-mulher de Dirceu.
Esse procedimento indica que Barbosa considera esse ponto particularmente relevante para incriminar Dirceu, acusado no STF de cometer os crimes de formação de quadrilha e corrupção ativa.
O julgamento do mensalão entra amanhã na sua quinta semana. Ele ainda está no começo e só deverá chegar daqui a duas semanas ao capítulo em que serão analisados os crimes atribuídos a Dirceu.
Os favores à sua ex-mulher lançam dúvidas sobre a distância que o ex-ministro diz que sempre manteve do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, apontado como operador do mensalão.
Dirceu diz que mal conhecia Valério e que só teve contato com ele em reuniões no Palácio do Planalto às quais ele compareceu na companhia de outros empresários.
A psicóloga Maria Ângela da Silva Saragoça, 59, viveu com Dirceu de 1981 a 1990 e teve uma filha com ele. Os favores que recebeu de Valério foram revelados na época em que o mensalão foi descoberto e estão documentados no processo que está no STF.
Graças à interferência de Valério, Ângela ganhou um emprego no banco BMG e um empréstimo de R$ 42 mil do Banco Rural. Os dois bancos emprestaram milhões de reais ao PT e às empresas de Marcos Valério que distribuíram o dinheiro do mensalão.
Ângela também conseguiu ajuda para vender um apartamento em São Paulo. Quem comprou o imóvel, numa transação que incluiu um adiantamento de R$ 20 mil em espécie, foi o advogado de Valério, Rogério Tolentino.
A própria Ângela reconheceu os favores e a participação de Valério nos depoimentos que prestou. O presidente do BMG, Ricardo Guimarães, disse que o emprego de Ângela foi pedido de Valério.
O empresário disse que ajudou Ângela a pedido do ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira, que se livrou do processo após fazer um acordo para ser excluído da ação e cumprir pena alternativa.
Tolentino disse que só conheceu Ângela quando se encontraram na imobiliária para concluir a compra do seu apartamento e afirmou que só depois soube que se tratava da ex-mulher de Dirceu.
Nenhum dos participantes dessas transações disse ter feito qualquer coisa a pedido do ex-ministro, mas Ângela contou à Polícia Federal em 2006 que discutiu seus problemas financeiros com o ex-marido em agosto de 2003.
Um mês depois dessa conversa, ela foi apresentada a Valério por Silvio Pereira. Em menos de três meses, Ângela Saragoça ganhou o emprego no BMG e o empréstimo no Rural e conseguiu vender o apartamento em São Paulo.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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