domingo, 19 de agosto de 2012

Novos nomes, velhos métodos - Tereza Cruvinel

O Departamento Intersindical de Apoio Parlamentar (Diap) divulgou a já tradicional lista dos 100 parlamentares mais influentes do Congresso. O grau de conservantismo político de um país mede-se também pela renovação de sua elite dirigente. No Brasil republicano, a mais forte alteração no retrato da elite política deu-se com a eleição do ex-presidente Lula e a ascensão de um partido com a gênese e a composição do PT. A plebeização do poder, no sentido sociológico, explica a intolerância de setores da elite para com Lula. Ele teve mais de 60% dos votos, mas o PT conquistou apenas 17% da Câmara. Isso explica muito do que se passou depois, e agora está em cartaz no STF. A governabilidade exigiu uma coalizão com partidos liberais, repetida no segundo mandato e ampliada no governo Dilma. A ela pertence, naturalmente, a maior parte dos "100 cabeças do Congresso" identificados pelo Diap.

Apesar de algumas mudanças nominais na lista, persiste a lógica institucional que leva um parlamentar a ingressar na elite. Ele precisa ser indicado pela cúpula partidária para postos de destaque: líder, relator, presidente de comissão etc. Por não jogarem esse jogo é que muitos bons parlamentares, de diferentes partidos, deixaram a carreira: Roberto Magalhães, Roberto Brant, Delfim Netto, Eduardo Jorge, o hoje ministro José Eduardo Cardozo e agora Maurício Rands, entre outros tantos. Mesmo assim, vale analisar a lista em busca de revelações. Entre os 100, 61 são deputados e 39, senadores. Como a Câmara tem 513 cadeiras e o Senado 81, infere-se que os senadores continuam sendo mais influentes. A Câmara segue piorando e perdendo relevância. A grande renovação foi na elite da elite, na lista dos "10 mais": todos eles, no passado, ainda estavam em ascensão. Sete são deputados: Amauri Teixeira (PT-BA), Carlos Zarattini (PT-SP), Givaldo Carimbão (PSB-AL), Guilherme Campos (PSD-SP), Jilmar Tatto (PT-SP), Lincoln Portela (PR-MG) e Silvio Costa (PTB-PE). Três são senadores: Ana Amélia (PP-RS), Blairo Maggi (PR-MT) e Vital do Rêgo (PMDB-PB).

Na distribuição partidária, verifica-se o óbvio: são do PT, que tem o governo e a maior bancada, 28 dos 100 "cabeças". Vem a seguir o aliado PMDB, com 16; o PSDB, com 12; o DEM e o PDT, com cinco cada. Os demais têm menos que isso. Na distribuição por estados, quem haveria de duvidar, a hegemonia é de São Paulo, que tem 21 nomes na lista, seguido de Pernambuco e Rio Grande do Sul. Minas, celeiro de quadros, ficou num oitavo lugar, descolado de sua tradição e peso econômico. As mulheres, já sendo apenas 15% do Congresso, são apenas 9% da elite que decide.

A forma de escolher deputados no Brasil encarece as campanhas e faz com que sejam eleitos, preferencialmente: os homens, os mais ricos, os brancos, os apoiados pelo poder econômico. Vale dizer, os que recebem as maiores doações. A Câmara não mudará para melhor enquanto nosso sistema proporcional não for trocado pelo voto em lista, pelo voto distrital ou pelo sistema misto. Um deputado da base governista, Henrique Fontana (PT-RS), e um da oposição, Marcus Pestana (PSDB-MG), lideram o esforço para um cessar fogo entre seus partidos, que permita a aprovação da reforma política no início de 2013. É a última chance nesta legislatura.

Outros problemas. A semana passada terminou com um ponto para a presidente Dilma na frente da economia. Apesar da estridência das militâncias petista e tucana sobre ser ou não uma privatização, o lançamento do pacote de concessões rodoferroviárias foi um sucesso para quem interessa agora: os empresários, que podem investir, e os governadores, que podem ser parceiros. Há, entre esses últimos, tucanos bem emplumados, como Geraldo Alckmin. Os mais experientes economistas acreditam que o crescimento será retomado, mesmo demorando mais que o desejado.

Mas Dilma tem problemas em outras frentes, como a da gestão política. Muitos deputados de sua coalizão vestem por baixo a camisa da bancada ruralista. Ameaçam impor ao governo nova derrota na questão do Código Florestal. No esforço concentrado do início de agosto, o Senado aprovou uma penca de matérias. A Câmara, nada. Culpou-se a minguada oposição que, irritada com o descumprimento de um acordo sobre emendas orçamentárias, encenou uma obstrução. Mas ela só funcionou porque a base faltou. No palácio, culpam o presidente da Câmara, Marco Maia, e o líder do governo, Arlindo Chinaglia. Diz-se que esse último pode ser traçado depois da eleição. Eles podem estar sendo usados como biombo, para esconder o problema estrutural: a insustentável volatilidade da coalizão dilmista. Tão grande, tão disfuncional.

Indústria de defesa. "Um país que se julga importante precisa ter uma política de defesa consistente", costuma dizer o ministro Celso Amorim. Isso exige uma forte indústria nacional no setor. Na semana passada, aconteceu em Brasília a exposição BID Brasil. As empresas compareceram, expuseram seus produtos e tecnologias. Com a redução tributária já anunciada, muitas estão firmando parcerias estrangeiras e, sobretudo, regionais.

"A forma de escolher deputados no Brasil encarece as campanhas e faz com que sejam eleitos, preferencialmente: os homens, os mais ricos, os brancos, os apoiados pelo poder econômico. Vale dizer, os que recebem as maiores doações"

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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