Se a decisão do Supremo Tribunal Federal, no caso do mensalão, representa um marco em direção ao fim do ciclo de impunidade histórica de agentes públicos no Brasil, a Câmara dos Deputados, em sentido contrário, se consolida como a resistência à moralização das práticas e costumes políticos.
O presidente da instituição, Marco Maia (PT-RS), e o que provavelmente o substituirá, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), indiferentes à opinião pública, empenham a simbologia do cargo maior do Parlamento em favor da peça farsesca que procura desqualificar a decisão judicial traduzindo-a por "ato político" da Suprema Corte.
Maia o faz pela estratégia de redução de danos adotada pelo seu partido diante da perda de capital político imposto pelo mensalão. Alves o segue para garantir o cumprimento do acordo com o PT, que deverá fazê-lo sucessor.
Discurso diferente teria como consequência imediata a condenação pública à inacreditável posse de José Genoino (PT-SP) e o risco de uma sangria de votos no chamado baixo clero, onde rivais com pouca ou nenhuma chance garimpam votos.
É possível, mas não provável, que o peemedebista, com a experiência de 11 mandatos consecutivos na Câmara Federal, uma vez no cargo, coordene uma saída conciliadora e abandone o discurso de enfrentamento com o Judiciário.
Mas a simples necessidade de fazê-lo, pelo risco de perder os votos de seus pares, mostra o quanto o Legislativo virou às costas à sociedade, com índices negativos que o tornam uma das instituições mais desacreditadas do País.
Mesa pronta
Recolhido em Alagoas, na esperança de evitar que sua candidatura à presidência do Senado relembre sua deposição anterior do cargo, Renan Calheiros deixou definido o acordo de composição da Mesa Diretora. Jorge Viana (PT-AC) assumirá a Primeira Vice-Presidência e Romero Jucá (PMDB-RR), a Segunda. Flexa Ribeiro (PSDB-PA) fica com a Primeira Secretaria e Armando Monteiro (PTB-PE) com a Terceira. Eunício Oliveira (CE) é a aposta para suceder Renan na liderança do PMDB, e Vital do Rêgo Filho (PMDB-PB), ex-presidente da CPI do Cachoeira, deve ser contemplado com a presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Outro cargo cobiçado, a presidência da Comissão de Orçamento, seria oferecida ao senador Luiz Henrique (PMDB-SC).
Na Câmara
Já a liderança do PMDB na Câmara, entre Eduardo Cunha (RJ) e Sandro Mabel (GO), pende para o primeiro, apoiado pelo candidato à presidência da Casa, Henrique Eduardo Alves (RN). Ambos desagradam ao Planalto. Cunha bem mais que Mabel. Com avião...
Em campanha pela presidência da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN) visitará 12 Estados, a partir do dia 15, começando pela Região Sul. Ele afirmou que vai viajar no avião de seu correligionário, o deputado e ex-governador de Minas Gerais Newton Cardoso. "Pedi e ele me atendeu como companheiro de PMDB. Pagarei o combustível."
...sem voto
Mas Cardoso não descarta a possibilidade de votar em seu conterrâneo, Júlio Delgado (PSB-MG), adversário de Alves. Vai depender da bancada estadual. "Será um voto solidário, não solitário", diz.
Olho no olho
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador Geraldo Alckmin tentam acertar os ponteiros em conversa marcada para o final do mês.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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