“Poder-se-ia explicar a difusão brasileira de Gramsci como um mero capítulo da enorme difusão dos seus trabalhos em todo o mundo, o que não estaria longe da verdade, embora não esgote a questão. De todo modo, seria uma explicação mais plausível do que a fornecida por uma extrema-direita ideológica que ainda luta a guerra fria e vê em Gramsci a fonte de uma estratégia insidiosa e solerte, a solapar os valores tradicionais, mudando-os sem que ninguém perceba. Nada a fazer, a democracia admite opiniões de todo tipo, mesmo as que parecem desajuizadas (à direita e à esquerda, diga-se passagem).
Mais sensato seria ver que a presença moderna de Gramsci entre nós remonta aos anos 1960 e 1970, quando passou a ser sistematicamente veiculado por intelectuais majoritariamente ligados ao velho partidão. A Editora Civilização Brasileira, de Ênio Silveira, e personalidades como Carlos Nelson Coutinho, Leandro Konder e Luiz Mário Gazzaneo, fizeram circular na esquerda o pensamento de um marxista que tentava compreender - e valorizar - as estruturas "ocidentais" da política e da sociedade. Um marxista que, lido dessa forma, parecia desautorizar as ilusões da esquerda armada, que se batia contra o regime - bravura pessoal à parte - segundo uma estratégia que só tinha como consequência reforçar o aparelho repressivo.”
Luiz Sérgio Henriques. Vice-presidente da Fundação Astrojildo Pereira, é um dos organizadores das Obras de Gramsci no Brasil. Gramsci, aqui e agora. Monitor Mercantil, 24/1/2013
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