Para coordenador em PE, Carvalho foi "ignorante" ao falar em "favelas rurais"
Letícia Lins
RECIFE - O coordenador em Pernambuco do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Jaime Amorim, que também é da direção nacional do movimento, reconheceu ontem que a reforma agrária implementada no Brasil "não é a que sonhamos", mas afirmou que comparar os assentamentos com favelas rurais "é falta de conhecimento ou ignorância". Ele reagiu às declarações do ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, que na última sexta-feira reconheceu clima de "tensão" entre os trabalhadores rurais e o governo e comparou alguns assentamento a "quase favelas rurais":
- Isso não existe. O que há são assentamentos isolados, que o Incra proporciona, mas somente no interesse de resolver ou reduzir conflitos. Isso é o que há. Há realmente áreas onde os movimentos vêm lutando para conseguir as mínimas condições, inclusive de sobrevivência, para os trabalhadores rurais.
Ele fez as declarações em pleno carnaval de Olinda, onde o MST colocou uma barraca em uma praça conhecida como Sítio Del Rey, para receber simpatizantes e até sem-terra de Pernambuco e outros estados. Ontem, a barraca prestou uma homenagem ao artista plástico Abelardo da Hora, contemporâneo do ex-governador Miguel Arraes. Segundo o líder regional do MST, existem áreas de reforma agrária que até fornecem alimentos para merenda escolar.
- Há assentamentos que funcionam bem, estão produzindo, até fornecem alimentos para a merenda escolar de pelo menos 15 municípios. Mas há outros onde realmente falta tudo e que não alcançaram as mínimas condições de dignidade. Agora, comparar isso com favela é exagero ou ignorância, porque os problemas da periferia, como a superpopulação, não estão sendo transportados para o campo. Não há risco de um assentamento virar favela. São conceitos totalmente diferentes.
Segundo ele, o governo apostou mal na questão dos assentamentos e investiu muito pouco nessas iniciativas:
- Os movimentos se esforçam para facilitar as questões sociais, estimulam a construção de agrovilas, para que as famílias não fiquem isoladas, criando condições para o convívio, a identidade camponesa. Mas, se os assentamentos não dão certo, grande parte da culpa é do governo. A tarefa dele é intervir para reverter essa situação.
Fonte: O Globo
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