Dilma tenta evitar paralisia
A presidente Dilma Rousseff vai comandar uma reunião ministerial hoje para cobrar ações em resposta às manifestações que se disseminaram pelo país nas últimas semanas. No Congresso, porém, ela terá de enfrentar o descontentamento de aliados.
Pelo menos oito ministros foram recebidos ontem pela presidente no Palácio da Alvorada para conversar. Ela deixou de ir à final da Copa das Confederações para tratar da reação do governo e dos detalhes do plebiscito sobre a reforma política.
Em Brasília, a rotina de protestos se manteve. A Marcha das Crianças foi organizada por pais em defesa de melhorias sociais, do combate à corrupção e de mais ação das autoridades.
Ao sair do Alvorada, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, afirmou que a intenção de Dilma é repassar aos auxiliares "resoluções" e "encaminhamentos":
– E, também, fazer recomendações de como se conduzir (as ações do governo). Quer dizer, não deixar os projetos pararem, todos saberem de que forma estão sendo encaminhadas as reivindicações, e também garantir que não haja paralisia ou retrocesso dos programas sociais que estamos tocando.
Paulo Bernardo disse ainda que a presidente terá nova rodada de conversas sobre o plebiscito. Siglas de oposição serão convidadas para dialogar, além de empresários. Os partidos governistas já avalizaram a proposta na semana passada, mas PSDB, DEM e PPS, adversários do Planalto, criticam a iniciativa.
Paulo Bernardo afirmou que a mensagem sobre o plebiscito será enviada ao Congresso nesta semana e está em processo de elaboração, a cargo do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e do vice-presidente Michel Temer.
– Achamos importante ouvir a população sobre um tema que não tem avançado por divergências, por dificuldades na área política – disse o ministro.
No Congresso, porém, a queda na popularidade presidencial apontada pelo Datafolha (veja na página ao lado) refletiu no humor de aliados, que agora pedem mudanças na economia e na articulação política.
– Muda a relação do Congresso com a presidente. Ela vai ter que dialogar mais para aprovar os projetos propostos, inclusive vai ter de abrir um canal com a oposição – disse o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).
Presidente do PP, o senador Ciro Nogueira (PI) afirmou que o governo precisa ter um interlocutor nos moldes de José Dirceu e Antonio Palocci, que já chefiaram a Casa Civil:
– Isso facilitaria muitas coisas.
Perguntado se defendia a saída das ministras das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, e da Casa Civil, Gleisi Hoffman, ele respondeu:
– Ou sair ou ganhar autoridade, porque quem faz o ministro é a própria presidente.
Correria sem direção
Para a presidente Dilma Rousseff, o pior não é a drástica queda na pesquisa, mas o fato de que a desaprovação ao governo reacendeu um movimento de Volta Lula dentro do PT. O abismo que Dilma mergulhou foi além do esperado e já ameaça sua reeleição.
É muito cedo para um diagnóstico definitivo, mas seu então favoritismo para a eleição se esfarelou. O problema é a insatisfação generalizada manifestada com os protestos nas ruas. Dilma negligenciou. Surfava na onda de alta popularidade e dava de ombros para os sinais que a economia mandava: o repique inflacionário e o crescimento pífio.
Neste vácuo de rejeição à política tradicional, crescem os nomes de Marina Silva (Rede) e do outsider Joaquim Barbosa, principalmente entre os mais jovens. Em vez de promover ajustes para recuperar a economia, o PT se apoia na aprovação à proposta de plebiscito para tratar da reforma política. Diante do embate, até a oposição ganha fôlego.
Não há tempo hábil para uma discussão séria sobre reforma política que possa resultar em mudanças já em 2014. Dilma cometeu um erro básico: deixou de usar a alta aprovação de seu governo para conduzir as reformas. Agora, corre para tentar reverter o descontentamento das ruas. Essa correria sem direção, contudo, pode comprometer de vez o que resta de sua credibilidade junto aos eleitores.
Fonte: Zero Hora (RS)
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