A mais recente trapalhada do Palácio do Planalto mostra bem como o governo Dilma está perdido na busca de aparentes respostas rápidas às manifestações populares. Depois de recuar em 24 horas da convocação de uma Constituinte exclusiva para realizar a reforma política, foram necessárias apenas quatro horas para que recuasse da realização do plebiscito para valer já em 2014 e voltasse atrás do recuo.
O vice-presidente Michel Temer, depois de se encontrar com José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, e Aloizio Mercadante, da Educação, que atualmente faz o papel de coordenador político do governo, foi claro em uma entrevista coletiva: "Não há mais condições - e vocês sabem disso - de fazer qualquer consulta antes de outubro. E, não havendo condições temporais para fazer essa consulta, qualquer reforma que venha só se aplicará para as próximas eleições, e não para essa".
Essa é a verdade dos fatos, mas não a verdade que a presidente Dilma quer ouvir. Sentiu-se desprestigiada, como se tivesse autoridade legal para convocar um plebiscito, e exigiu uma retratação. Temer então soltou uma nota oficial da Vice-Presidência da República, afirmando que "o governo mantém a posição de que o ideal é a realização do plebiscito em data que altere o sistema político eleitoral já nas eleições de 2014".
Entre o ideal e o possível vai uma distância grande, neste caso, pelo menos, mas se salvou a honra da "soberana", como o marqueteiro João Santana define a presidente Dilma Rousseff e ela, pelo visto, se sente como tal. Apegar-se à realização do plebiscito como se fosse a salvação da lavoura não passa de uma estratégia política para levar para longe do Palácio do Planalto as críticas das ruas.
Se é verdade que uma reforma política é necessária para que o Congresso reflita mais os anseios da cidadania, é mais verdade ainda que os temas principais das manifestações se referiam a melhorias de condições que dependem mais da ação eficiente do governo do que de reformas políticas. O Executivo precisa se organizar de maneira a permitir mais investimentos, e para isso necessita dar o exemplo: cortar custos, equilibrar suas contas, conter a inflação.
Sem esses pré-requisitos, não haverá melhoria da economia, que segue para o terceiro ano num ritmo de crescimento médio que já é o menor dos últimos 16 anos. O resto é jogada de marqueteiro para enganar os eleitores.
O avião
O senador Renan Calheiros bem que tentou se mostrar atento às vozes da rua, com exceção daquelas 1,5 milhão de pessoas que pediram sua saída da presidência do Senado em abaixo-assinado. Danou-se a aprovar diversas matérias que dormiam em suas gavetas, a tal ponto que vários colegas se mobilizaram para conter seu ímpeto diante do buraco no Orçamento que a aprovação indiscriminada provocaria.
Mas se de um lado se mostrou pródigo em aprovar gastos como o Passe Livre para estudantes, na tentativa de angariar simpatias, de outro continuava com seus hábitos de coronel da política. Flagrado no ato de utilizar um avião da FAB para ir ao casamento da filha do líder do PMDB Eduardo Braga, em Trancoso na Bahia, Calheiros garantiu que o usou da mesma maneira que sempre usara, como "o avião para representação, como presidente do Senado".
Acontece que não tem esse direito, pois o decreto 4244 de 2002 que limita a utilização dos aviões da FAB, editado para acabar com mordomias, define as situações em que podem ser requisitados: por "motivo de segurança e emergência médica, em viagens a serviço e deslocamentos para o local de residência permanente".
Como não se enquadra em nenhum desses casos, o presidente do Senado tem que ser responsabilizado por sua conduta ilegal.
Erro de nacionalidade
O poeta William Butler Yeats era irlandês, e não inglês como saiu aqui ontem.
Fonte: O Globo
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