Governador do Ceará teve "alforria" de Eduardo Campos para sair com o irmão Ciro
Maria Lima, Ilimar Franco, Germano Oliveira e Flávio Ilha
BRASÍLIA, SÃO PAULO e PORTO ALEGRE- Quem discordar da decisão do PSB de avançar na candidatura própria à Presidência da República em 2014 e de romper com o governo federal terá que buscar outro caminho. Essa foi a resposta dada pelo presidente do partido, Eduardo Campos, ao governador do Ceará, Cid Gomes, numa conversa anteontem que culminou com a decisão do desafeto de, finalmente, deixar o partido. Com essa orientação, a Executiva Nacional do PSB volta a se reunir hoje, em Brasília, para encerrar dissidências no Ceará e no Rio de Janeiro, onde o presidente do diretório estadual, Alexandre Cardoso, também deverá ser afastado por insistir em apoiar a presidente Dilma Rousseff e não entregar os cargos no governo de Sérgio Cabral.
Cid deve se filiar ao PSD de Gilberto Kassab, abrindo caminho para a provável filiação da petista Luizianne Lins ao PSB. Os socialistas negociam com a ex-prefeita para que seja candidata ao governo do Ceará, garantindo palanque para Eduardo Campos. Na conversa com Campos, Cid perguntou se poderia continuar no PSB, mas apoiando a reeleição de Dilma. Ouviu um sonoro "não" Perguntou, então, se teria "alforria" para sair com o irmão Ciro Gomes, sem processo por infidelidade partidária. Ouviu que "na hora".
— Não vamos abrir precedentes para algo fundamental que é a fidelidade partidária — disse Eduardo Campos.
"Não quero criar inimizades"
Cid não pretende esperar por uma intervenção no partido e reuniu a Executiva estadual do PSB ontem à noite para comunicar a decisão e discutir os próximos passos.
— Sempre tive uma posição pública, clara e transparente. A hora não é agora. Devemos nos preparar para 2018. Não tenho como deixar de apoiar a reeleição da presidente Dilma. Mas não quero criar inimizades. Quero ficar ou sair em paz — disse o governador do Ceará.
Cid não confirmou a data do desembarque, mas a direção do PSB não vai esperar o fim do prazo das filiações partidárias, o que inviabilizaria o embarque de Luizianne ou outro eventual candidato ao governo do estado. O presidente do PT, Rui Falcão, fez um apelo para que a ex-prefeita de Fortaleza não troque o PT pelo PSB.
— O lugar da Luizianne é no PT. Ela está no PT desde o movimento estudantil e já me disse que ama o partido — disse Falcão.
A costura da ida da ex-prefeita está sendo feita pelo ex-marido, Sérgio Novais, que é da Executiva do PSB e deve protocolar, na reunião de hoje, uma representação pedindo o afastamento imediato de Cid Gomes do diretório estadual do Ceará. Outros membros da Executiva alegam ser um alívio a saída dos Ferreira Gomes, que pretendiam continuar no partido alimentando um "palanque traíra" contra Eduardo Campos.
— Não tinha a menor intenção de deixar o PSB. Mas, nos últimos dias, fui alvo de hostilidades sem qualquer desmentido da direção do partido. Subentendo que se trata de um convite para seguir outro rumo — afirmou Cid.
Além de entregar à presidente Dilma os cargos que tinha no governo federal, o PSB começa a articular palanques nos estados para Eduardo Campos e está hoje se aproximando muito mais do PSDB do que dos petistas. O PSB negocia coligações com os tucanos em dez estados: São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Alagoas, Amazonas, Para, Piauí, Tocantins, Pernambuco e Paraíba. Com o PT, as alianças se resumem a estados como Bahia, Acre, Amapá, Ceará e Sergipe.
Entrega de cargos no Sul
Os socialistas entendem que hoje é mais interessante um acordo com Aécio Neves do que com Dilma para 2014. Com Aécio e Campos na disputa, será mais fácil ter segundo turno contra Dilma, sobretudo porque o pernambucano tomará votos de Dilma no Nordeste, e Aécio vai tirar votos da petista em Minas e Rio. Para os socialistas, Marina terá dificuldades de viabilizar a Rede Sustentabilidade e pode ficar fora do páreo.
O PSB formalizou ontem ao governador Tarso Genro a entrega de todos os cargos que mantém no Executivo do Rio Grande do Sul. A decisão foi tomada em reunião da direção estadual do partido na noite de segunda-feira.
Os socialistas vão entregar cerca de 30 postos no governo, entre eles a secretaria de Infraestrutura e Logística e a presidência de estatais influentes, como a empresa de energia CEEE e a autarquia de rodovias Daer. O vice-governador Beto Grill permanece no governo porque foi eleito, segundo a direção do PSB.
O governador Tarso Genro não se mostrou surpreso com a decisão e disse que "não tem pressa" para preencher os cargos entregues pelos socialistas. No fim da tarde, porém, o PDT emitiu nota na qual diz que a Secretaria de Infraestrutura foi oferecida ao partido por Tarso. Os trabalhistas, que ocupam as secretarias de Saúde, Esporte e Gabinete dos Prefeitos, recusaram a oferta.
Fonte: O Globo
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