Dilma Rousseff finalmente conseguiu. Dos três discursos que a presidente proferiu ao abrir a Assembleia Geral das Nações Unidas, esse último foi o que mais chamou a atenção da mídia internacional. Nos grandes sites da imprensa internacional, os adjetivos variaram de "palavras fortes" e "ásperas" a "virulento". Os adjetivos têm lá sua razão de ser.
A presidente brasileira foi a primeira a levantar de forma contundente a questão da espionagem, referindo essa prática como violação dos direitos humanos. Assim, ganhou pontos não só perante os brasileiros como também em relação aos demais países que já foram vítimas da mesma invasão de privacidade. Não por acaso, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, num discurso centrado na questão da Síria, mencionou en passant em seu pronunciamento que seu país, hoje, "revisa a forma de coletar inteligência" para, assim, balancear a segurança e as preocupações com a preservação da privacidade.
Nenhum dos dois discursos anteriores de Dilma na ONU — o primeiro em 2011 e o segundo no ano passado — teve tanto destaque. No primeiro discurso, havia o inusitado da voz feminina abrir a 66ª Assembleia Geral, e a tônica da presidente foi em torno da crise econômica que assolava os EUA e a zona do euro, além da cobrança de medidas de regulamentação do sistema financeiro global. No plano internacional, Dilma cobrou a inclusão plena do Estado Palestino nas Nações Unidas.
Obviamente, depois de expor suas impressões e propostas de contenção da crise econômica, Dilma fez os comerciais das ações de seu governo, antes de mencionar a inclusão da Palestina e cobrar a reforma dos fóruns internacionais. A fórmula se repetiria no ano seguinte. Com destaque à falta de ações firmes para combater a crise econômica, Dilma repisou basicamente os mesmos temas, na mesma tribuna. Até a abertura do discurso com menção à voz feminina foi mantida. Desta vez, porém, ela fez diferente. Chamou Obama e a ONU para o centro do debate ao propor que as Nações Unidas tratem de regular as comunicações globais. Se Dilma queria destaque, desta vez, ela conseguiu.
Enquanto isso, em Brasília...
Por aqui, a vida segue frenética em função dos últimos dias para troca de partidos. Marina Silva faz um périplo para ver se tira a Rede do telhado sem rasgá-la. O PMDB trata de segurar seu povo ao emitir uma resolução avisando que pedirá os mandatos daquele que deixarem a legenda. Havia, só ontem, pelo menos três deputados na porta de saída: Arthur Maia (BA), Paulo Henrique Lustosa (CE) e Luiz Pitiman, do Distrito Federal.
No PSB, a saída da ala contrária à candidatura de Eduardo Campos era esperada. Está na porta o governador do Ceará, Cid Gomes — que leva o irmão Ciro — e Alexandre Cardoso, do Rio de Janeiro. Agora, o partido vai tentar levar Luizianne Lins, do PT. Essa dança das cadeiras só termina em 5 de outubro. Até lá, o estica e puxa por deputados continua, uma vez que cada um vale tempo de tevê para 2014. E ainda tem os partidos encalacrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que, se saírem, vão bagunçar ainda mais o coreto das 30 legendas oficialmente registradas no Brasil.
Por falar em PSB...
A presidente Dilma deve se reunir com Eduardo Campos na sexta-feira. Nada de retorno ao governo. Trata-se apenas de um gesto no sentido de reforçar as pontes para 2014. Tudo o que o PT não quer é ver Eduardo mais próximo do PSDB de Aécio Neves. E essa aproximação, hoje, depende mais de Dilma do que qualquer outro ator dentro do PT. Afinal, é ela a candidata e, agora, a mulher que joga na ONU o debate da espionagem. Os petistas esperam que ela seja tão pró-ativa na política interna quanto foi ontem em Nova York. Já não será sem tempo. Mas essa é outra história.
Fonte: Correio Braziliense
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