quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Dilma, o petróleo e as oposições - Luiz Carlos Azedo

Todas as críticas foram respondidas por Dilma, em tom de campanha eleitoral. Bem feito para quem apostou no quanto pior, melhor

Verdade seja dita, a presidente Dilma Rousseff, assim como já havia capitalizado o programa Mais Médicos — oficialmente iniciado ontem —, também conseguiu faturar politicamente o leilão do Campo de Libra, que correu sério risco de virar o maior fracasso do seu programa de concessões, se não houvesse interessado pelo negócio. Foi um jogo de cartas marcadas. O consórcio formado pela Petrobras (que ficou com 40% do negócio) e sócios chineses, holandeses, franceses e ingleses, foi articulado pela empresa brasileira e, obviamente, já era de conhecimento do Palácio do Planalto. O leilão foi mantido por tropas do Exército, da Marinha e da Força Nacional, por ordem e sob comando direto de Dilma, que despachou para o local do leilão o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.

A novidade mesmo na exploração de Libra é a presença dos chineses, com duas estatais, mas sem a participação majoritária que chegou a ser prevista por muitos. Mesmo assim, o leilão consolida a China como principal parceiro comercial do Brasil, uma aproximação que se intensificou durante o governo Lula. Em termos históricos, é uma aliança muito recente, basta lembrar que nossas relações diplomáticas com a China foram interrompidas após o golpe militar de 1964 e só foram restabelecidas na gestão José Sarney.

Os demais parceiros da exploração de petróleo não são recém-chegados. Muito pelo contrário, são velhos conhecidos: os franceses já tentaram se fixar no Rio de Janeiro (1555-1567) e no Maranhão (1594-1615); os holandeses ocuparam Pernambuco (1630-1654), depois de uma frustrada invasão a Salvador (1624-1625). Já os ingleses mandaram e desmandaram durante boa parte do Império. As ex-potências colonialistas ocuparam as Guianas — os franceses estão lá até hoje, são nossos vizinhos de fronteira.

As consequências dessa parceria com a China precisam ser enfrentadas sem preconceito, como disse ontem a presidente Dilma Rousseff, mas sem ingenuidade, vale a pena acrescentar. O Brasil é uma potência emergente do Atlântico Sul, não tem acesso direto ao Pacífico. A China é uma potência continental, que disputa com os Estados Unidos a hegemonia do comércio global, cujo eixo se deslocou do Atlântico para o Pacífico. Disputa semelhante pelo controle do comércio no Atlântico, entre a Alemanha e a Inglaterra, no século passado, provocou duas guerras mundiais. Ninguém sabe como esse embate será resolvido, mas a guerra cibernética já começou.

Os Estados Unidos ficaram de fora do leilão do pré-sal. Estão de olho no gás de xisto e na abertura do mercado do Golfo do México para concorrer com a China: energia barata versus mão de obra barata. Deixaram órfãos seus aliados tradicionais no Brasil. As críticas da oposição ao leilão do pré-sal do Campo de Libra foram de três ordens: o modelo de partilha, que é leite derramado; os termos do leilão, que levaram a um concorrente apenas; e a suposta privatização do pré-sal, que surpreendeu o governo, porque partiu principalmente de sua própria base: os petroleiros ligados à CUT. Todas as críticas foram respondidas por Dilma, em tom de campanha eleitoral. Bem feito para quem apostou no quanto pior, melhor. A oposição deveria se preocupar mais com os problemas de logística para o comércio com o Pacífico e a sobrevivência da indústria brasileira de bens de consumo, que são os pontos fracos dessa parceria do Brasil com a China.

Bruzundangas
O jornalista Cid Benjamin lançou ontem, no Rio de Janeiro, o livro de memórias Gracias a la vida (Editora José Olímpio). Um dos sequestradores do ex-embaixador americano Charles Burke Elbrick, ele conta que o diplomata seria executado caso “o cativeiro fosse invadido ou nossas reivindicações não fossem atendidas”. Cid e o jornalista Franklin Martins, ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social do governo Lula, ambos do antigo MR-8, faziam um ponto na Rua Marques, em Botafogo, quando viram o diplomata passar num carro oficial sem escolta. Esse fato gerou o plano do sequestro. O jornalista também trata do caso Celso Daniel, o que vai provocar muito barulho junto aos militantes do PT, do qual foi um dos fundadores. Segundo ele, “o PT trabalhava com mafiosos, gente do esquema do roubo. O caso virou um incômodo”.

A partir desta semana, assino a coluna Nas Entrelinhas às segundas, às quartas e às sextas-feiras.

Fonte: Correio Braziliense

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