Com a sanção da medida provisória do Programa Mais Médicos, Dilma antecipa o discurso governista na disputa presidencial do ano que vem e adversários afinam as ações de contraponto às principais bandeiras petistas
Paulo de Tarso Lyra, Daniela Garcia
A solenidade estava marcada para sancionar o Mais Médicos, principal bandeira eleitoral da presidente Dilma Rousseff na campanha de 2014. Inspirada pela consolidação do programa lançado em julho, Dilma fez um balanço de seus três anos de governo e dos 10 anos do PT no poder, destacou a inclusão social de 22 milhões de pessoas, comemorou o leilão de Libra que destinará R$ 300 bilhões para educação e saúde e diz que o governo está cumprindo os pactos firmados, há 120 dias, em cadeia de rádio e televisão, em resposta às manifestações ocorridas durante a Copa das Confederações. E retornou ao Mais Médicos. “Aprovar esse programa, levando médicos para o interior, é a prova que o fim da miséria é apenas o começo”, disse a presidente.
Foi um resumo da propaganda eleitoral do PT no ano que vem. O que não significa que os demais pré-candidatos não tenham um discurso preparado para antagonizar com os petistas (veja quadro ao lado). “Nós reconhecemos que houve avanços nos últimos 10 anos, sobretudo ao longo do governo do presidente Lula. Mas nós temos um governador (Eduardo Campos) que é possível fazer mais e melhor”, disse o senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF).
Para Rollemberg, não se pode aceitar que o país tenha taxas de crescimento abaixo dos 2%. Em Pernambuco, o ritmo de crescimento do estado beira os 8% — para os petistas, isso só foi possível graças aos incentivos dados por Lula à gestão de Eduardo Campos. “O Brasil não pode apenas se contentar com o Bolsa Família. Quem foi para as ruas em junho quer serviços públicos de qualidade, educação, saúde, segurança e transporte.”
No domingo, durante abertura do 51º Congresso de Educação Médica, em Olinda (PE), Eduardo Campos afirmou que, se o país precisou importar médicos estrangeiros, é porque faltou planejamento. “Precisamos reconhecer publicamente que o Brasil falhou no planejamento da formação de pessoas para uma área essencial da expressão da cidadania brasileira”, afirmou.
Já o pré-candidato do PSDB ao Planalto, senador Aécio Neves (MG), não vê quaisquer méritos nos programas alardeados por Dilma nas últimas semanas. “Esse hábito do PT de aparelhar o estado fez muito mal ao país nos últimos 10 anos. Perdemos investimentos, nossas estatais desvalorizaram e nada se fez para resolver os problemas de mobilidade urbana ou as crises nos setores de saúde e educação”, declarou o tucano, na semana passada, após os violentos protestos de professores em todo o país.
Clamor das ruas
Pela manhã, no Planalto, Dilma reforçou que o governo estava antenado com o clamor das ruas. Pelo prazo legal, ela tinha até 7 de novembro para sancionar o programa. Optou por fazê-lo o mais rápido possível para já colher os frutos da medida. “Este é um compromisso que firmamos para ajudar as pessoas mais pobres e fragilizadas deste nosso país.”
A presidente também não esqueceu as promessas que fez em cadeia de rádio e televisão, a exatos 120 dias, após as manifestações. “Elas respondiam às demandas dos movimentos de junho, e convergiam com aquilo que o governo considerava que eram as grandes questões que precisavam urgentemente atenção do governo e do país”. E acrescentou: “o que propomos vem se tornando progressivamente realidade”.
Dilma citou a manutenção da responsabilidade fiscal, com a inflação sob controle e o aumento na geração de empregos. No campo da educação, lembrou a aprovação do projeto de lei que destina 75% dos royalties do governo federal para educação e 25% à saúde. “No caso da educação, o fundo social do pré-sal destina, para ser distribuído entre as duas áreas, em torno de mais de R$ 300 bilhões. Isso é algo absolutamente significativo para o Brasil”, comemorou.
A presidente, que vê parte da base aliada flertar com os candidatos de oposição, também aproveitou para afagar o Congresso, como uma maneira de prestigiar os senadores e deputados da coalizão governista. “Nós vamos transformar petróleo em educação, em livros, em conhecimento. Essa alquimia foi feita e eu agradeço ao Congresso. Essa alquimia de transformar petróleo em livros, em professores, em mais Educação para o nosso país. Eu agradeço porque ela sempre é feita com vontade política.”
As armas de cada um
Confira o que cada um deve apresentar ao eleitor ao longo de 2014
Dilma Rousseff
» Programa Mais Médicos
» Leilão do pré-sal
» Concessões de rodovias, ferrovias e aeroportos
» Redução de desigualdade
Eduardo Campos
» Crescimento do PIB pernambucano em ritmo chinês
» Discurso de sustentabilidade herdado a partir da união com Marina Silva
» Porto de Suape como o principal ponto de saída para as exportações brasileiras
» Novo diálogo com a classe política e com a sociedade
Aécio Neves
» Choque de gestão no governo de Minas
» Defesa das privatizações feitas durante o governo Fernando Henrique Cardoso
» Diminuição do aparelhamento do Estado
» Implantação da meritocracia no setor público
“O Brasil não pode apenas se contentar com o Bolsa Família. Quem foi para as ruas em junho quer serviços públicos de qualidade, educação, saúde, segurança e transporte”
Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), senador
Fonte: Correio Braziliense
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