No 5° Congresso do PT, com a presença da presidente Dilma e do ex-presidente Lula, líderes e militantes trataram como heróis os mensaleiros.
Desagravo a mensaleiros
Lula diz que partido enfrenta campanha de difamação; Falcão fala que História absolverá os presos
Fernanda Krakovics, Luíza Damé
BRASÍLIA - Enquanto o Palácio do Planalto tenta virar a página do escândalo do mensalão, o PT fez questão de lembrar e festejar, na abertura do 5° Congresso do partido, na noite de ontem, em Brasília, os expoentes petistas presos após condenação no julgamento feito pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Do discurso do presidente do PT, Rui Falcão, a gritos de guerra, adesivos e camisetas vendidas por militantes, o clima era de desagravo a José Genoino, José Dirceu e Delúbio Soares no ato que contou com a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula.
Logo que Lula e Dilma chegaram ao auditório, a plateia gritou em coro: “Dirceu, guerreiro do povo brasileiro”, “Genoino, guerreiro do povo brasileiro e “Delúbio, guerreiro do povo brasileiro”. Também abriram uma faixa ‘Anulação da Ação Penal 470’ numa referência ao processo do mensalão no Supremo, e gritaram “julgamento de exceção, queremos anulação”.
Queixas a diferenças de tratamento
Apesar dos apelos da militância petista, o ex-presidente Lula abriu seu discurso avisando que não falaria sobre o mensalão: — Tenho dito publicamente que não falarei da ação penal 470 enquanto não terminar a última votação. É uma decisão minha, acho prudente e temos coisas para discutir pela frente.
Quando ele iniciou o discurso, a plateia gritou, em coro: — Lula, guerreiro, defende os companheiros! o ex-presidente não resistiu e se referiu indiretamente ao mensalão: — Eles tinham medo do Lula, agora têm que enfrentar a Dilma e o Lula, agora têm que enfrentar um partido que, na maior campanha de difamação, faz um PED (Processo de Eleição Direta) e coloca mais de 400 mil militantes para votar. Lula afirmou que o PT recebe tratamento diferente da imprensa. — Nosso partido tem sido vítima das suas virtudes e não só de seus defeitos.
Somos criticados pelas coisas boas que fazemos, não só pelos erros. Se for comparar o emprego do Zé Dirceu no hotel com a quantidade de cocaína no helicóptero... Pelo menos houve uma desproporcionalidade na divulgação do assunto — disse Lula, referindo-se à apreensão pela Polícia Federal de aeronave da empresa do filho do senador Zezé Perrela (PDT-MG), com 400 quilos de cocaína.
A presidente Dilma faria seu discurso depois de Lula, que começou a falar após 21h, e manteria sua tradição de também não falar sobre o julgamento do mensalão. Além dos discursos e homenagens, o evento empossou Rui Falcão para um novo mandato como presidente do partido. Ele foi reeleito em novembro.
“Processo nitidamente político”
No discurso de posse, o presidente do PT disse que os mensaleiros foram condenados sem provas e cobrou providências da Justiça contra os adversários do PT, ao falar que há dois pesos e duas medidas, em referência ao mensalão mineiro, do PSDB. E também usou o termo “trensalão” para se referir à suposta formação de cartel e pagamento de propina em licitações do metrô nos governos tucanos de São Paulo.
Classificando o processo do mensalão como um “tsunami de manipulação”, Rui Falcão discursou, para delírio da plateia, que o aplaudia repetidamente: — É o típico caso da manipulação realimentando a mentira e da mentira realimentando a manipulação. A história vai provar que nossos companheiros foram condenados sem provas, em um processo nitidamente político, influenciado pela mídia conservadora.
Falcão Também reforçou o que considera diferença de tratamento entre os casos que envolvem o PT e outros partidos, como o PSDB: Surpreendentemente, o suposto sentimento de punição e justiça continua sem alcançar determinados setores e partidos, o que caracteriza uma inegável situação de dois pesos e duas medidas.
Por que o silêncio de mais de uma década, no martelo dos juízes, no famoso mensalão do PSDB mineiro? Por que o tratamento diferenciado de certos setores da grande imprensa em relação ao “trensalão” do governo tucano de São Paulo? o presidente do PT exaltou ainda que os governos de Lula e de Dilma foram os que mais combateram a corrupção no país, e que os adversários não serão tratados como foi o PT: — Não faremos uma campanha no estilo mar de lama como nossos adversários estão acostumados, e na qual, aliás, foram treinados por seus ancestrais.
Mas se enganam os que pensam que vamos levar injustiça e desaforo para casa. Além das manifestações de solidariedade de ontem, a direção do PT preparou para a manhã de hoje, quando Dilma e Lula não estarão presentes, um ato de apoio a Genoino, Dirceu e Delúbio, sob o título “Solidariedade aos companheiros injustiçados”, com participação de parentes dos condenados.
Fonte: O Globo
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