Provável candidato em 2014, senador diz não temer impactos do mensalão mineiro ou do cartel de trens: 'Não tenho nada com isso'; estratégia lembra fórmula adotada pela petista em 2010
Débora Bergamasco e João Domingos
BRASÍLIA - O presidente do PSDB e provável candidato à Presidência da República, Aécio Neves, pretende fazer sua campanha blindado dos problemas do PSDB, a exemplo do mensalão mineiro e do cartel dos trens de São Paulo. A fórmula é a mesma adotada pela então candidata Dilma Rousseff, em 2010, que dizia não ter nada a ver com os escândalos petistas. "Se tiver alguém do PSDB que recebeu propina e se isso ficar provado, tem que ir para a cadeia também", afirmou o senador durante jantar ontem no restaurante Piantella, com cerca de 30 jornalistas, em Brasília.
Aécio disse que vai insistir muito nas questões éticas durante a campanha. E que, diferentemente do PT, segundo ele, jamais vai proteger ou acobertar aqueles que estiverem envolvidos em irregularidades. Por essa razão, afirmou, não tem receio de que as questões relacionadas ao mensalão mineiro - que tem entre os envolvidos o deputado Eduardo Azeredo, ex-presidente do PSDB - e com o cartel dos trens o atinja. "Chegar em mim? Zero. Não tenho nada com isso", disse ele. O senador tucano lembrou ainda que o PT vai usar o congresso do partido, que começa hoje, em Brasília, para fazer um ato de desagravo aos mensaleiros. No PSDB, segundo ele, o tratamento é diferente. "Se alguém cometeu ilícitos, vai responder".
Informado sobre a votação do Supremo Tribunal Federal (STF), que caminha para restringir a doação de empresas privadas para campanha eleitoral, Aécio lamentou: "É a volta do caixa dois vindo aí. Ou melhor, o caixa dois vindo com ainda mais força".
O jantar foi realizado no Espaço Ulysses Guimarães, do Piantella, que fica no andar de cima do restaurante. "Foi aqui que Ulysses Guimarães e Tancredo Neves (avô de Aécio) fizeram todas as negociações que resultaram na redemocratização do Brasil. Foi aqui que eles fizeram o acordo que possibilitou a Tancredo ser candidato a presidente da República", disse Marco Aurélio, dono do restaurante. Para em seguida acrescentar: "É aqui, neste jantar, que está o futuro presidente do Brasil".
O senador tucano disse que deverá se mostrar como candidato a partir de março, mês que considera ideal para dizer que vai disputar a Presidência e quando vence o prazo do acordo que fez com o ex-governador José Serra para fazer o anúncio. Ele afirmou que está preparando "vacinas" para a campanha. A primeira delas foi o projeto que torna lei o programa Bolsa Família, uma das oficinas de votos do PT, e a defesa das privatizações. "O PT só acerta nas privatizações quando copia nossa fórmula e jamais vamos renegar o sucesso de nossa proposta", afirma. Lembra ainda o programa Mais Médicos, considerado por ele um forte ativo do governo. Aécio acredita que a ação deve ser mantida, mas com algumas mudanças. "Os médicos cubanos têm de receber salário [hoje o governo brasileiro paga ao governo cubano pela prestação de serviço deles]. Eu reformularia esse contrato."
Cenário eleitoral. Aécio Neves acredita que haverá segundo turno em 2014. Enquanto discute alianças regionais e apoio mútuos na segunda etapa do pleito com o pré-candidato do PSB, governador de Pernambuco, Eduardo Campos, ele elaborou sua estratégia para tentar diferenciar sua campanha da do socialista: "Não existe meia mudança, nós seremos a mudança", disse ele durante o jantar. Diante da última pesquisa realizada pelo Datafolha, segundo a qual 66% da população quer mudança nos rumos do Brasil, os tucanos apostam que o pernambucano não poderá assumir esse discurso, já que ele e o PSB participaram do governo petista nos últimos dez anos.
Ele chegou a brincar sobre a situação do PT na cidade de São Paulo, onde o prefeito Fernando Haddad não está bem avaliado. "Dizem até que nosso estrategista lá foi o Lula", em referência ao ex-presidente, padrinho da candidatura de Haddad.
Pelas contas do tucano, o PSDB pode ganhar nos Estados de São Paulo, Minas Gerais e tem chances no Rio de Janeiro. "Na Bahia as coisas não vão tão bem para o PT". "O segredo será tentar perder de menos possível no Norte e no Nordeste do País", diz o senador sobre regiões em que os petistas são mais fortes.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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