Por Raymundo Costa e Rosângela Bittar
BRASÍLIA - O pré-candidato do PSDB a presidente, Aécio Neves, vai lançar na terça-feira, 17, "um conjunto de diretrizes" no qual deve assentar as bases de um futuro programa de governo. "É mais do que um conjunto de princípios", afirmou Aécio. "É um conjunto de prioridades". A palavra chave será "mudança".
O presidenciável não quis antecipar algumas dessas diretrizes. O que Aécio considera fundamental é que desde já começou a "sinalizar" qual é a sua turma - inclusive na economia - e consequentemente o que pretende fazer no governo federal, na hipótese de vencer as eleições de outubro do próximo ano.
Ontem à noite Aécio participou de um jantar com cerca de 30 grandes empresários, em São Paulo. Na segunda-feira, haverá outro grande encontro com empresários do Rio de Janeiro. Organizados pelo economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Armínio é o denominador comum desses encontros, o que não quer dizer que ele será necessariamente ministro da Fazenda ou czar da Economia num futuro governo do PSDB. Mas se Aécio Neves for eleito presidente de um novo governo tucano, certamente será influenciado pelas ideias econômicas professadas por Armínio Fraga.
A "turma" a que se refere Aécio é integrada pelo ex-presidente Fernando Henrique, Armínio, o governador de Minas Gerais, Antônio Anastasia (que deve ser peça-chave em eventual governo de Aécio) e o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), cotado para compor a chapa como candidato a vice-presidente, na hipótese de os tucanos concorrerem com chapa pura - a ideia seria dar densidade para Aécio em São Paulo, já que espera sair de Minas com uma grande votação.
"Se houver o mesmo empenho em São Paulo que nós tivemos em Minas Gerais [o ex-governador José Serra ganhou da presidente Dilma Rousseff a eleição em Belo Horizonte, em 2010], nós ganhamos a eleição", disse.
Na conversa que teve com repórteres e colunistas de jornais, televisão, rádio e portais da internet, na quarta-feira, Aécio registrou alguns "fatos novos" na eleição de 2014 e que justificam seu otimismo, apesar do favoritismo da presidente da República, segundo apontam as pesquisas de opinião pública.
Aécio acredita que um fato diferencia a campanha de 2014 das campanhas anteriores, desde que o PT venceu em 2002: "Nas outras, as oposições em nenhum momento construíram algum tipo de entendimento". Agora ocorre exatamente o oposto. "O Eduardo [Campos, do PSB] não conseguirá fazer uma campanha que não seja de oposição. Haverá uma convergência natural". Segundo o presidenciável, "nós temos 80% de afinidade [PSDB e PSB] no Brasil hoje".
Aécio disse que apoiará Campos se ele for para o segundo turno e se diz "cada dia mais convencido de que Eduardo o apoiará", em caso contrário. Com a ressalva de que será ele, Aécio, quem estará no segundo turno.
O segundo "fato relevante" destacado por Aécio, que também é presidente do PSDB, é a ressurreição do partido no Nordeste. "Uma fênix mesmo", disse. "Nós renascemos das cinzas, tínhamos sido dizimados, não tínhamos nada. Tínhamos Maceió", afirmou, referindo-se às duas últimas eleições no Nordeste. Agora, "ganhamos muito mais que o PT, as capitais mais pobres. A periferia mais pobre do Brasil é a de Salvador, nós ganhamos do PT [com ACM Neto, do Democratas e provável aliado na eleição]. Aracaju (SE), Maceió (AL) e Teresina (PI), nós ganhamos nas três, Campina Grande, na Paraíba"
Segundo Aécio, 35% dos domicílios desses cidades, em média, recebem o Bolsa Família. "E votaram no PSDB". No Norte, nas duas principais capitais - Belém (PA) e Manaus (AM) "nós ganhamos, sendo que o Pará tem mais eleitores do que o conjunto da Amazônia. Lá ganhamos o governo e a prefeitura da capital. Ganhamos Manaus". Aécio lembrou que a diferença a favor obtida por Serra nos três Estados do Sul do país, perdeu "só no Amazonas - foi 99% a 1%". De fato, Serra não conseguiu desfazer a versão disseminada de que acabaria com a Zona Franca de Manaus. "Nós vamos diminuir a diferença nas regiões mais pobres. Deixou de ser o ativo que era do PT", disse.
Por via das dúvidas, Aécio também tratou de fazer uma "vacina" e aprovou um projeto, em comissão técnica da Câmara, que classifica o Bolsa Família como política de Estado. Pura precaução, pois diz que as acusações de insensibilidade social dos tucanos já estão "precificadas".
O terceiro fato novo em relação a 2014, de acordo com Aécio, é a mudança na qualidade da candidatura da presidente Dilma Rousseff. A presidente se elegeu em 2010 com o "figurino da continuidade", analisou. "Hoje o sentimento é claramente de mudança e não acho que vá ser revertido, mas ampliado", afirmou, numa alusão às pesquisas segundo as quais dois terços do eleitorado apontam para a necessidade de mudanças no próximo governo. "Estamos vivendo um fim de ciclo. A presidente fará uma campanha na defensiva na questão da economia, na questão das entregas de obras. A marca da ineficiência vai crescer durante a campanha".
Aécio escolheu um local sugestivo para o jantar com os jornalistas: o salão no segundo andar do restaurante Piantella em que seu avô, o presidente Tancredo Neves, falecido em 1985 antes de tomar posse, e o deputado Ulysses Guimarães, ambos à época do PMDB, conspiraram contra o regime militar e articularam o fim da ditadura dos generais. Na conversa, o tucano não fugiu dos temas mais espinhosos para o PSDB.
No momento em que ex-dirigentes do PT estão na cadeia e começam a ser reveladas relações perigosas de tucanos com o cartel que operava licitações de trens e metrô em São Paulo, Aécio assegura que "a ética" será um tema que vai permear sua campanha às eleições de 2014.
Em sua opinião, só tem o que temer quem está envolvido. "Para mim é zero". Tanto no que se refere ao escândalo Siemens / Alstom, em São Paulo, como no suposto "mensalão mineiro", assim chamado mais por associação com o escândalo do PT que pela natureza das acusações - um inquérito se referiu claramente à compra de votos; o outro trata do financiamento da campanha a governador do atual deputado Eduardo Azeredo, um ex-presidente do PSDB, como um clássico caso de caixa dois eleitoral. "Se tiver alguém do PSDB que cometeu irregularidade, que recebeu propina, e isso ficar provado, tem que ir para a cadeia também".
"Se alguém do PSDB cometeu ato ilícito, vai responder", disse. Mas, garantiu, não transformará os casos em questão política.
O presidenciável do PSDB encarou com bom humor todas as questões propostas pelos jornalistas, inclusive a mal resolvida relação com o ex-governador José Serra - para muitos tucanos e até adversários, Serra atrapalha o bom desenvolvimento da campanha de Aécio, ao se manter candidato. Afirma não se preocupar com as viagens de Serra pelo país. "Se ele estivesse viajando para falar bem do governo, me preocuparia", disse. E garantiu: "Vamos fazer desse limão uma limonada". Aécio espera anunciar o entendimento em março.
Fonte: Valor Econômico
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