"O que conta na vida não é o fato de termos vivido. É a diferença que fizemos para a vida dos outros." MANDELA
Por ora, as pesquisas de intenção de voto para a eleição do próximo presidente da República não passam de curiosidade. Ou de assunto oferecido à discussão dos aficionados pela política, à falta de algo mais empolgante. Ainda vivemos à sombra do julgamento do mensalão. E tudo indica que assim continuará, até que sejam examinados, daqui a alguns meses, os derradeiros recursos impetrados pelos réus.
FAÇA DE CONTA que você é um paulista apressado de passagem pelo Centro da cidade. Ou um carioca que percorre as ruelas por detrás da Avenida Rio Branco. De repente, você é abordado por um rapaz que lhe apresenta a credencial do Instituto Datafolha e que pede licença para lhe fazer perguntas rápidas. Uma delas, de resposta espontânea: em quem você pretende votar para presidente da República em 2014?
VOCÊ NEM SABE quais serão os candidatos. O mais provável é que você cite Dilma, o primeiro nome que lhe ocorra, ou Serra, cujo nome guardou na memória desde a eleição de 2010. Ou o nome daquela moreninha magrinha, que já foi ministra... Sim, a Marina. No Rio, principalmente, ela foi bem votada. Em Belo Horizonte, teve mais votos do que Dilma. Em seguida, o pesquisador exibe uma lista de candidatos. Em qual deles você votaria hoje?
EM ORDEM ALFABÉTICA, o nome de Dilma aparece em segundo lugar. Em primeiro, o de Aécio Neves. Governador... De qual estado mesmo? Sim, de Minas, auxilia o pesquisador. E esse aqui? Quem é Eduardo Campos? Nunca ouvi falar nele, você se desculpa. E cadê Marina? Ah, ela só entra na lista no lugar de Eduardo. É o que o pesquisador chama de cenário. Ou cenários, porque são vários. O sol esquenta, e você quer ir embora.
SERIA MAIS CONFORTÁVEL se você tivesse diante de si um pesquisador do Ibope. O do Datafolha atua na rua, no meio do fluxo de pessoas. O do Ibope bate à sua porta. É uma questão de metodologia de cada instituto. Há vantagens e desvantagens em cada uma delas — mas, no geral, se bem aplicadas, funcionam. De mais a mais, a gente só liga para resultado de pesquisas a poucas semanas da eleição. É ou não é?
A DEFINIÇÃO DE PARCELA expressiva dos votos também se faz a poucas semanas da eleição. Em alguns casos, na semana da eleição. Em 1989, por exemplo, Lula acabou derrotado por Fernando Collor na antevéspera do dia da eleição. Ancorado pelo Plano Real, Fernando Henrique Cardoso venceu Lula com folga, em 1994. Mas dali a quatro anos, na noite da apuração dos votos, levou um susto: corria o risco de a decisão ficar para o segundo turno.
NO TIPO DE PRESIDENCIALISMO que temos, é brutal a força da presença do presidente em quase tudo que tenha a ver com o dia a dia dos cidadãos. A reeleição, introduzida durante o primeiro mandato de Fernando Henrique, serviu para aumentar essa força. Daqui até meados de agosto próximo, só dará Dilma na telinha e nas ondas sonoras. Fora a Copa do Mundo. Talvez manifestações contra a realização da Copa por aqui.
BOBAGEM DIZER QUE os candidatos de oposição não ocupam espaço nos meios de comunicação porque não conseguem articular um discurso inovador, capaz de seduzir. Onde eles farão tal discurso? A partir de agosto, no rádio e na TV, conforme manda a lei. Mas, antes? Enquanto isso, qualquer espirro dado pela presidente é notícia. A propaganda oficial se encarrega de massificar os supostos êxitos do seu governo.
Fonte: O Globo
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