Quando há um crime, é um mau negócio ultrapassar o limite das faixas colocadas no local pela polícia de Nova York. Quem desafia a regra logo enfrenta um guardinha falando grosso e até empurrando. Berrar e reclamar é inócuo. Há chance real de sair dali algemado.
Há exceções. Às vezes alguém transgride. Mas cidadãos em geral conhecem as regras. Um ativista pode se jogar no meio da rua para atrapalhar o trânsito. Sabe que será retirado e levado até a delegacia.
Em 1988, como correspondente, achei um absurdo ter de solicitar minha credencial à polícia de Nova York. Depois, entendi. Numa cidade com milhares de eventos públicos, é natural a polícia desejar saber quem está devidamente habilitado para trabalhar como jornalista.
Às vezes imagino o que aconteceria se um grupo de 50 ou 100 pessoas tentasse diariamente bloquear o trânsito da 5ª Avenida, em Nova York. Seriam todos detidos, não importando a causa defendida. E ninguém sério argumentaria que falta liberdade de expressão nos EUA.
Por aqui, já se passaram cerca de quatro meses desde as grandes manifestações de junho. A cada semana, atos violentos continuam a ser organizados. É comum a avenida Paulista, uma das mais relevantes de São Paulo, ficar interditada. Há depredação de patrimônio público e privado. Cidadãos são impedidos de circular livremente.
É evidente que as forças de segurança brasileiras não estão sabendo lidar com esse novo fenômeno. Não conseguem coibir o vandalismo. Não protegem manifestantes pacíficos. Sem contar os 102 casos de agressões a jornalistas nesses atos.
Tudo para dizer que é positivo o acordo de cooperação firmado nesta semana entre os governos federal, de São Paulo e do Rio para usar mais inteligência na hora de lidar com as manifestações de rua. Antes tarde do que nunca, isto é, se houver, de fato, resultado a partir de agora.
Fonte: Folha de S. Paulo
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