No aniversário de 20 anos do plano econômico, ex-presidente afirma que é falsa a ideia de que não há alternativas e vê Brasil 'sem rumo'
Alexa Salomão, Beatriz Bulla, Elizabeth Lopes e Fernando Travaglini
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso aproveitou ontem um evento de celebração dos 20 anos do Plano Real, em São Paulo, para convocar os críticos do governo Dilma Rousseff a "mudar o Brasil para melhor" e recolocar o País no "rumo". O tucano também rebateu os ataques feitos à recente atuação do PSDB e afirmou que "há, sim, oposição" na atual política brasileira.
FHC fez a abertura e o encerramento do seminário "20 anos depois do Plano Real: um debate sobre o futuro do Brasil", promovido pelo instituto que leva seu nome em um teatro de São Paulo. Participaram do evento quase todos os integrantes da equipe econômica que criou o plano de estabilização - lançado no último ano do governo Itamar Franco, do qual o tucano era titular da Fazenda - e depois atuou nos dois mandatos de Fernando Henrique, como o ex-ministro Pedro Malan e os ex-presidentes do Banco Central Armínio Fraga, Gustavo Franco e Gustavo Loyola.
No mês passado, o PSDB também promoveu uma comemoração dos 20 anos do Real no Congresso, em Brasília. Tanto naquele momento quanto ontem, predominaram as críticas à política econômica de Dilma e os discursos em defesa da alternância de poder.
Ontem, Fernando Henrique insistiu na argumentação de que falta rumo à condução política e econômica do Brasil. "O País se sente sem saber para onde vai. As apostas implícitas nas decisões governamentais foram de que, com a crise mundial, o mundo ia mudar na direção da prevalência do terceiro-mundismo, não é o que está acontecendo", disse, durante a primeira parte do evento.
No discurso de encerramento do seminário, FHC deu ainda mais ênfase às questões políticas e eleitorais. O tucano defendeu a atuação do PSDB e dos partidos de oposição ao governo petista e implicitamente fez campanha pela derrota de Dilma nas urnas. "É falsa a ideia de que não há alternativas", afirmou Fernando Henrique. "Convoco todos a colocar em prática o que foi discutido hoje, para mudar o Brasil para melhor."
Além de economistas ligados à equipe do Plano Real, havia políticos do PSDB na plateia, como o ex-senador Tasso Jereissati. O atual presidente nacional da legenda e pré-candidato ao Planalto, senador Aécio Neves (MG), não participou do evento, assim como o ex-governador de São Paulo José Serra - no governo FHC, o paulista era voz dissonante à política de juros defendida por Malan.
'Cooptação'. Em uma crítica direta ao atual governo, FHC disse que hoje não há um presidencialismo de coalizão, mas sim de "cooptação". A referência era à crise entre Dilma e seu principal aliado, o PMDB, partido do qual faz parte a maior parte dos deputados rebelados contra o governo.
O ex-presidente afirmou que, quando governou o Brasil, costurou acordos políticos, entre eles com o PFL (atual DEM), baseados em um projeto de desenvolvimento para o País, o que não estaria ocorrendo hoje. Para o tucano, atualmente o Estado "não é democrático". "O processo de decisão se faz à margem do Congresso e da sociedade."
Ao falar de política externa, FHC questionou o que vê como perda de liderança do Brasil na América Latina e voltou a fazer questionamentos à postura do PT e do governo em relação aos países vizinhos. "A liderança passou para o Chávez e depois para países do Pacífico. Nós ficamos acovardados, não conseguimos defender o que é nosso", afirmou FHC, para quem o País não sabe mais se "convém defender a liberdade e a democracia, ou não".
Fonte: O Estado de S. Paulo
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