quinta-feira, 1 de maio de 2014

Míriam Leitão: O trabalho

Sempre achei admirável como os brasileiros se esforçam para trabalhar. A admiração tem crescido nos difíceis tempos atuais.

Trabalhadores das grandes cidades precisam começar o dia numa corrida de obstáculos para chegar ao trabalho: o ônibus está lotado ou não para, os trens urbanos são mal cuidados e também cheios. Os metrôs, insuficientes. São horas de luta até chegar.

E só então a jornada começa, quando o trabalhador já está cansado pelo esforço de atingir o local onde exerce suas atividades diárias: na fábrica, no escritório, na loja, no supermercado, na casa de família. Investimentos eficientes em mobilidade urbana diminuiriam esse desgaste. Olhando da perspectiva econômica, isso aumentaria a produtividade do trabalho.

Olhando pelo ângulo pessoal, esses investimentos permitiriam melhora na qualidade de vida, mais tempo de convivência com as famílias, o que tem valor intangível para toda a sociedade.

Quando as reportagens mostram diariamente algum problema grave de trânsito, em um dos grandes centros brasileiros, com os ônibus, metrôs, trens, o que se ouve nas entrevistas é sempre uma frase do tipo “eu preciso chegar ao trabalho”.

E agora cada vez mais brasileiros vão de carro para o serviço. Carros financiados em longas prestações, que se desgastam no caminho e que ficam engarrafado horas. Muitas vezes, para fugir do tráfego, a pessoa sai de casa mais cedo e chega antes do horário, esticando a carga horária.

Nos últimos anos, piorou muito a mobilidade urbana e esse problema foi crescendo de forma exponencial. O IBGE já fez pesquisas de quanto tempo se gasta por dia no transporte até o trabalho.

Milhões de brasileiros nas metrópoles acordam de madrugada, quando a cama ainda os chama, e seguem para a corrida diária de obstáculo até chegar à empresa que os contrata, ao local onde executam suas tarefas.

É neles que penso neste 1º de maio. Em quem tem que provar diariamente sua determinação de trabalhar, perdendo horas do seu dia apenas com o ir e vir nas cidades, onde há décadas há subinvestimento em infraestrutura de transporte. E a eles rendo homenagem.

Os trabalhadores domésticos que moram em locais mais distantes das periferias das grandes cidades são os que mais cedo madrugam para chegar. Está, felizmente, diminuindo muito o percentual dos que dormem no emprego. Mas a lei que protege esses trabalhadores — em geral, mulheres — com todos os direitos trabalhistas está presa no Congresso. É lei, mas não foi regulamentada.

A verdade é que o brasileiro gosta de trabalhar e prova isso diariamente. O mercado de trabalho melhorou nos últimos anos com ganhos de renda e queda do desemprego.

Ainda assim, há 40% de trabalhadores informais, e o mercado de trabalho tem desigualdades grandes. Jovens, mulheres e negros enfrentam taxas maiores de desocupação.

Tem caído o número de trabalhadores encontrados pela fiscalização em condições degradantes, mas esses fatos inaceitáveis ainda acontecem. Brasileiros que vão de uma região a outra atraídos por uma promessa de emprego e lá ficam sem as promessas cumpridas e sem condição de voltar para casa.

Este espaço da coluna de 1º de maio fica então dedicado a todos esses brasileiros que não apenas trabalham, mas têm que provar diariamente que querem trabalhar. Têm que superar obstáculos e correr riscos na esperança de que o trabalho garanta a eles, elas, e aos seus filhos um futuro melhor. Que a maioria esteja hoje descansando neste feriado. É justo e merecido.

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