- Folha de S. Paulo
Há meses os mercados financeiros têm especulado com as pesquisas eleitorais. Dilma Rousseff sobe, os preços das ações em Bolsa de Valores caem. E vice-versa.
O Banco Santander, espanhol, resolveu falar em público o que só ficava escondido sob o manto dessa entidade abstrata e sem cara, "o mercado". Num comunicado para seus clientes com renda superior a R$ 10 mil mensais, cometeu a seguinte análise:
"Se a presidente [Dilma Rousseff] se estabilizar ou voltar a subir nas pesquisas, um cenário de reversão pode surgir. O câmbio voltaria a se desvalorizar, juros longos [sic] retomariam alta [sic] e o índice da Bovespa cairia (...) com a deterioração de nossos fundamentos macroeconômicos."
Em seguida, sugere ao cliente "alocar os seus investimentos de maneira mais adequada". Em outras palavras, se o PT ficar no poder, venda suas ações.
O Santander é o quinto maior banco em operação no Brasil. Ao enxergar o potencial explosivo de sua análise, resolveu se desdizer e publicou uma nota oficial: "A instituição pede desculpas aos seus clientes".
Esse tipo de previsão catastrofista não é novidade no Brasil. Em 1989, a Fiesp falava na saída de 800 mil empresários se Lula ganhasse a disputa presidencial. Em 2002, o Goldman Sachs inventou o "lulômetro": o dólar disparava com a vitória do PT.
Numa democracia, um banco tem o direito de se manifestar. Liberdade de expressão. Só que a nota do Santander se prestou --de maneira inadvertida ou não-- a algo mais complexo. Análises estapafúrdias produzem um ambiente no qual poucos faturam alto especulando com fantasias sobre o futuro da economia.
Mas o episódio tem sua utilidade. Escancara o nível de atraso do capitalismo brasileiro e como sucessivos governos (do PSDB e do PT) são incapazes de impor normas mais rígidas e civilizatórias ao tal mercado.
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