• Em centro do Afroreggae, tucano diz que é a favor da redução da maioridade penal para crimes hediondos
Leticia Fernandes – O Globo
RIO — O senador Aécio Neves (PSDB), candidato à Presidência, visitou nesta sexta-feira o centro cultural do Afroreggae, na favela de Vigário Geral. Ao lado de José Júnior, líder da ONG voltada para jovens de comunidades, ele disse ser a favor do projeto de seu vice, o senador Aloysio Nunes (PSDB), sobre a redução da maioridade penal em caso de crimes hediondos. O tucano não respondeu se já pousou no aeroporto de Cláudio, em Minas Gerais, e fez críticas à presidente Dilma Rousseff (PT).
Sobre o evento da petista com prefeitos e o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), nesta quinta-feira, Aécio afirmou que Dilma tem se concentrado em fazer eventos fechados e impõe a presença de aliados.
— A diferença central da nossa campanha para a da presidente é isso aqui, eu estou andando pela rua, sem ninguém. A nossa campanha vai ser olhando para as pessoas. Por enquanto, a presidente tem tido dificuldade de se apresentar à população, os eventos são fechados, com quase que imposição da presença de aliados, eu vou contar, muito mais do que com prefeitos e deputados, com a população brasileira, que está cansada de tudo que está acontecendo — disse o tucano.
Ele afirmou que a proposta de Nunes, sobre a redução da maioridade penal em caso de crimes hediondos, pode representar o fim da impunidade. Foi a primeira vez que o assunto apareceu na campanha presidencial:
— Não é uma posição consensual, mas o projeto do Aloysio, que atinge cerca de 1% dos jovens que cometem um delito, pode sinalizar o fim da impunidade. Estamos falando de crimes hediondos. Mas isso não é solução, é paliativo. Solução é educação.
O senador afirmou que houve exploração política do caso do aeroporto de Cláudio, e que ele “está mais do que esclarecido”. Nesta terça-feira, o tucano afirmou que escolheu, quando governador de Minas, uma área que pertencia a seu tio-avô para a construção do aeroporto porque era a opção “mais barata”.
— De novo? Isso já foi mais do que esclarecido. O estado de Minas não fez um, fez mais de 30 aeródromos. Foram milhares de licitações, todas levando em conta o interesse público. É natural que haja uma exploração política, tenho uma vida ilibada, correta. Todos os esclarecimentos estão sendo dados, e os que ainda forem necessários, serão.
Logotipo do governo federal tapado
Dentro do centro cultural do AfroReggae, O GLOBO constatou que o logotipo do governo federal, que patrocina a ONG, estava parcialmente tapado com papéis e fita crepe. José Júnior disse que cobriu os dizeres “governo federal” e “país rico é país sem pobreza” porque recebeu, por escrito, um determinação do governo para agir dessa forma. Ele negou ter feito isso só para receber Aécio na comunidade:
— Não tem nada a ver com o Aécio. É ordem do governo federal. Não pode mais ter isso por escrito durante período eleitoral.
Segundo advogados ouvidos pelo GLOBO, é vedada a propaganda institucional durante o período de campanha, mas não há problema na exibição do logotipo em um local físico, sobretudo em um projeto já patrocinado pelo governo antes do início da campanha. Segundo o Ministério da Cultura, a Lei Rouanet já repassou R$ 1,4 milhão ao centro cultural Waly Salomão.
Fórum de Ongs com tucano
No encontro de Vigário Geral, Aécio e Júnior, que também é responsável pelo relacionamento do tucano com os jovens, anunciaram a criação do Fórum Brasil. Composto por representantes do terceiro setor, o grupo analisará projetos de sucesso implantados Brasil afora e os apresentará a Aécio. O presidenciável, por sua vez, se comprometeu a transformá-los em política pública.
Agindo assim, Aécio avança sobre o terceiro setor, que tem forte ligação com a ex-senadora Marina Silva, vice na chapa presidencial de Eduardo Campos (PSB).
— Estamos reunindo diversas pessoas, e isso (o trabalho do fórum) vai virar política de Estado. É o empreendedorismo social — afirmou Aécio.
O Fórum Brasil será formado, entre outros, por Júnior, Rodrigo Baggio, fundador do Comitê pela Democratização da Informática (CDI), Rosa Maria Fisher, diretora do Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor da USP, e Carlos Bezerra, da ONG Excola.
— O fórum foi criado para legitimar as experiências bem-sucedidas do terceiro setor, dos empreendedores sociais, das ONGs e do que chamo de INGs, o Indivíduo Não Governamental — explicou Júnior.
Baggio apoiou Marina na disputa presidencial de 2010. Gravou vídeo em que exaltava a chapa dela com o empresário Guilherme Leal, sócio da Natura. Neste ano, ele resolveu se unir a Aécio porque viu um “tensionamento” na chapa de Marina e Campos por conta das divergências sobre os apoios nas disputas estaduais e pelo fato de o tucano ser “uma possibilidade real de mudança” para o país.
— O Aécio representa uma grande oportunidade para mudar o Brasil. Também está montando um grande time de colaboradores — justificou Baggio, que ressalta ter se unido à campanha não em nome do CDI.
Aliados de Marina minimizam a adesão de antigos apoiadores à campanha de Aécio.
— Essas pessoas não tinham participação na campanha de 2010, só declararam apoio — disse Bazileu Margarido, um dos coordenadores do PSB.
Ele destacou ainda que a adesão de pessoas ligadas a ONGs a campanhas costumam ser discretas porque as entidades, em geral, dependem de verbas públicas obtidas por meio de parcerias com os governos federal e estaduais.
Pasadena: tucano considera “curioso” Dilma ser inocentada
Aécio comentou também a absolvição de Dilma, pelo TCU, na investigação da compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. Ele classificou de “curioso” e “tratamento diferenciado” o fato de o conselho de administração da Petrobras, do qual Dilma fazia parte, não ter sido responsabilizado.
— Acho apenas curioso que os diretores sejam responsabilizados e os membros do conselho, que ratificam as ações, terem tido um tratamento diferenciado. Eu não prejulgo ninguém, acho apenas que está faltando uma palavra pessoal da presidente.
Na área econômica, as críticas foram sobre o que chamou de “excessivo intervencionismo” na área energética e de petróleo. Segundo o tucano, não se pode mais “terceirizar” a responsabilidade do baixo crescimento do Brasil:
— O Brasil é um país hoje visto com enorme desconfiança pelos investidores internos e externos pelo excessivo intervencionismo do estado em setores fundamentais da economia, o energético e o de petróleo. A FGV está apontando que nos últimos seis meses, mês a mês a desconfiança dos agentes econômicos vem diminuindo. Sem confiança, meu amigo, ninguém se desenvolve. Não dá mais pra terceirizar a responsabilidade, o Brasil crescerá menos que seus vizinhos esse ano. Esse modelo fracassou e precisamos introduzir um outro, um estado que dê oportunidade à juventude.
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