domingo, 24 de agosto de 2014

Empresários se dividem entre o temor e a esperança de mudança

• Posicionamentos da ex-ministra não são esquecidos, mas há aposta na evolução

Danilo Fariello – O Globo

BRASÍLIA - Executivos de setores econômicos considerados mais agressivos ao meio ambiente, como agronegócio, mineração e geração de energia, dividem-se neste momento entre o simples temor diante do crescimento de Marina Silva nas pesquisas de intenção de voto e a expectativa de que ela tenha mudado de posição em relação às suas áreas. Persistem na mente de muitos empresários algumas declarações tidas como ideológicas e preconceituosas da outrora ministra do Meio Ambiente, por exemplo de que a pecuária era uma das culpadas pelo aumento do desmatamento na Amazônia.

- A visão dela é de que somos vilões. Eu tenho medo dela, não só como produtor, mas pelo Brasil, que sobrevive com exportações do agronegócio. Tenho medo de pessoas radicais e preconceituosas. Não dá para imaginar que você vai sustentar o Brasil só com orgânicos - disse Glauber Silveira, ex-presidente e conselheiro da Associação Brasileira dos Produtores de Soja e presidente da Câmara Setorial da Soja, do Ministério da Agricultura.

A visão de Silveira não costuma ser explicitamente defendida pelos demais empresários desses setores produtivos, até porque são segmentos dependentes de subsídios ou de concessões públicas, que têm de manter um convívio pacífico com qualquer governo.

Os setores preferem, portanto, acreditar na possibilidade de uma transformação de posições tidas como ideológicas de Marina Silva, caso venha a assumir a Presidência. Tirso Meirelles, presidente do Conselho Nacional da Pecuária de Corte (CNPC), crê na "evolução" do discurso de Marina e até reconhece que, no passado, houve quem derrubava árvores e usava o gado como uma espécie de álibi na Amazônia.

- Ela evoluiu no diálogo, assim como nós, do agronegócio, também evoluímos - disse Meirelles, a quem Campos havia proposto colaborar com o programa de governo.

Luiz Claudio Paranhos, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), lembra que Campos esteve na feira de gado Expozebu neste ano, onde foi muito bem recebido. Mas, para ele, o perfil de Marina é diferente.

- Enquanto Aécio Neves fala em um superministério da Agricultura, as posições historicamente radicais de Marina são preocupantes. Eu gostaria que ela se manifestasse de forma clara perante o nosso setor - disse Paranhos.

Tratamento sem ideologia
Na área mineral, que tem um novo marco regulatório em discussão no Congresso, a expectativa maior é de que o setor seja mais ouvido e reconhecido, independentemente de quem seja o futuro presidente. Elmer Prata Salomão, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa Mineral (ABPM), reconhece que a mineração carrega um "karma" do passado, de ser uma atividade poluente.
- Se regulada competentemente, a mineração pode trazer benefícios para as comunidades. O que não pode ser feito é tratar a questão indígena de modo ideológico. Vai ser muito difícil que Marina entenda o ponto de vista mais pragmático.

Um texto do "Portal do Geólogo" que circulou semana passada entre grandes empresas da mineração indicava que um governo de Marina poderia "asfixiar e minimizar" o setor. O texto remete a declarações antigas da candidata e à nota do site Rede Sustentabilidade, que diz "ser fundamental que o contrato de concessão (mineral) reflita as condições socioambientais estabelecidas na licença ambiental, assim como o resultado da consulta às comunidades impactadas".

No setor elétrico, o medo é que licenças ambientais demorem mais a sair, disse Luis Fernando Viana, presidente da Associação dos Produtores Independentes de Energia (Apine).

- Marina teve um momento de uma certa diatribe com setor de infraestrutura, porque era ministra do Meio Ambiente e buscava a proteção do ambiente. Desde então, evoluiu bastante o pensamento dela. Por mais que defenda energia limpa, sabemos que eólica e solar têm potencial pequeno comparado com térmica e elétrica. A fonte térmica, de fato, é mais poluidora, mas não podemos viver sem ela - disse Alexei Vivan, diretor-presidente da Associação Brasileira de Companhias de Energia Elétrica e presidente do Fórum do Meio Ambiente do Setor Elétrico (Fmase).

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