- Folha de S. Paulo
Há alguns anos Dilma Rousseff costumava guardar em seu laptop ou tablet réplicas de quadros que admirava. Ela gosta muito de "A grande onda de Kanagawa", do japonês Hokusai, com o mar se levantando, revolto e incontrolável, para tragar embarcações flutuando à sua frente. É uma onda semelhante que pode --ou não-- estar se formando agora na sucessão presidencial.
A chegada de Marina Silva como candidata do PSB, no lugar de Eduardo Campos, vai se transformar num maremoto indomável? É ingenuidade negar essa possibilidade só com argumentos racionais. Pouco tempo de TV, alianças regionais capengas ou partido desunido são elementos relevantes. Só que quando uma onda se forma, é difícil detê-la.
Num ambiente de tsunami eleitoral, dados cartesianos às vezes são desprezados pelo eleitor. Discussões dialéticas descem para o segundo plano da política. Em 1989 foi um pouco assim. É evidente que Fernando Collor de Mello não tem nada a ver com Marina Silva. Mas houve uma grande onda na primeira eleição presidencial direta pós-ditadura. Qualquer pessoa mais bem informada sabia o que viria com o candidato "collorido". Venceria a inorganicidade da política, o voluntarismo. A onda venceu. E deu no que deu.
Vale ressaltar: Marina Silva não é Collor, nem de longe. Mas agora, tal qual em 1989, ela tem como sua principal força motriz o desejo difuso de mudança. Uma sensação de que o Brasil até melhorou, mas pode avançar muito mais se houver uma troca geral do establishment político que manda no país há décadas. Dilma mostrou ontem na TV hidrelétricas, estradas e aeroportos. O PSB apareceu apenas homenageando Eduardo Campos, seu líder morto em 13 de agosto, quarta-feira passada.
Assim será a campanha. Razão X emoção. É impossível ainda prever se o PSB e Marina serão bem-sucedidos ou se a onda de hoje se transformará em marolinha mais adiante.
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