- Blog do Noblat
A roda já tinha sido inventada e girava razoavelmente bem.
Na verdade, eram três rodas: inflação na meta, câmbio flutuante e superávit primário de 3,1% do PIB.
Tudo que estava prometido na Carta ao Povo Brasileiro para garantir aos eleitores que o programa do PT iria dormir na gaveta enquanto a política anterior continuaria sendo aplicada, e assim espantar os fantasmas e tornar possível a vitória de Lula, o dr. Palocci aplicou direitinho.
Nunca antes na história deste país um governo reformista reformou tanto a sua retórica para, no fim, mudar para que tudo permanecesse igual, como pregava Tancredo, o sobrinho do príncipe de Salinas, o Leopardo.
A roda continuou girando até que se abrissem as portas da generosidade máxima dos “reformadores”, que foram eleitos para expandir as suas benesses para todos. O dr. Palocci foi escanteado por mil razões, e com ele foi jogada no lixo a roda que girava, o tripé que parava em pé, e o governo, travestido de Estado resolveu meter a sua mão na roda.
A cócega do salvacionismo estatal falou mais alto e o governo resolveu meter a mão na economia, talvez na ilusão de fazer a roda girar mais rápido - ou à imagem e semelhança de suas utopias.
Subitamente foi inventada a quadratura do círculo e a roda parou de girar. Os mecanismos naturais da economia foram substituídos: a mão invisível do mercado foi substituída pela mão pesada do intervencionismo, e o governo resolveu trocar o seu papel regulador pelo papel de benfeitor da humanidade; começou a determinar os lucros e os riscos dos outros, a determinar os preços, a segurar as tarifas para não aumentar a inflação, e o trem descarrilou.
O país começou a crescer aos trancos e barrancos, menos que os seus vizinhos latino-americanos. A inflação começou a descontrolar-se, a feira ficou mais cara, os empresários perderam o “apetite animal” e diminuíram sua gana de investir, o governo voluntarista começou a maquiar as suas contas.
Maquiar as contas públicas é mais fácil do que maquiar e esconder o apetite intervencionista, que faz parte do mais recôndito desejo da alma deste governo. O governo, além de tentar dirigir a mão da economia, tenta agora dirigir também a mão das reações ao seu ímpeto dirigista.
Na véspera de uma eleição que vai decidir se a sua roda quadrada tem suficiente sustentação para continuar a engasgar ou não, o governo intervém também na principal função técnica dos bancos, que é o seu compromisso contratual de orientar seus clientes para preservar seu patrimônio.
Intimida as instituições acusando-as de fazer jogo político-eleitoral simplesmente por cumprir a sua função de relatar fatos, associando-os uns aos outros, até dar-lhes sentido.
Os analistas dos bancos não entendem “porra nenhuma” do Brasil, e quem acha que entende faz com que eles calem a boca.
Onde foi que já vimos esse filme?
Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez e "Armênio Guedes, Sereno Guerreito da Liberdade"(editora Barcarolla).
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