• Poeta maranhense obteve 36 dos 37 votos possíveis para a vaga de Ivan Junqueira
- O Globo
A Academia Brasileira de Letras (ABL) elegeu nesta quinta-feira o poeta maranhense Ferreira Gullar para a cadeira 37, sucedendo o poeta e tradutor Ivan Junqueira, morto em 3 de julho. Gullar obteve 36 dos 37 votos possíveis. Um voto foi em branco.
Amplo favorito para a vaga, o escritor de 84 anos será empossado em cerimônia a ser realizada apenas em 2015. Fundada por Silva Ramos, a cadeira 37 tem como patrono o poeta Tomás Antônio Gonzaga e já foi ocupada por Alcântara Machado, Getúlio Vargas, Assis Chateaubriand e João Cabral de Melo Neto.
Gullar chega à ABL depois de resistir por muitos anos à candidatura. Em entrevista publicada hoje no GLOBO, ele explica a decisão de concorrer:
— A morte do Ivan foi o fator decisivo pra eu decidir me candidatar. Éramos muito amigos. Pensei: é a cadeira que um dia foi de João Cabral de Melo Neto e do meu amigo Ivan. Foi a partir de João Cabral que começaram a sentar poetas nesta cadeira, então me sinto confortável.
Ainda em outubro, a ABL realiza mais duas eleições. No dia 23, para escolher o ocupante da cadeira de João Ubaldo Ribeiro — o favorito é o historiador Evaldo Cabral de Mello. No dia 30, para a vaga de Ariano Suassuna, que deve ser assumida por Zuenir Ventura.
Poeta Ferreira Gullar é eleito imortal da ABL com 36 dos 37 votos
Luiza Franco – Folha de S. Paulo
RIO - Confirmando um favoritismo anunciado, o poeta Ferreira Gullar, 84, colunista da Folha, foi eleito na tarde desta quinta (9) para ser o titular da cadeira 37 da Academia Brasileira de Letras (ABL), antes ocupada pelo poeta e tradutor Ivan Junqueira, morto no último dia 3 de julho.
Gullar teve 36 dos 37 votos — três cadeiras estão vagas. Um foi em branco. Questionados sobre a autoria desse voto, os acadêmicos desconversam. "A queima [dos votos, após o escrutínio] tem um significado simbólico. Desaparecem os vestígios. Queima-se justamente para ninguém saber quem votou em quem. É uma elegância. O Brasil está precisando de elegância", disse a escritora Nélida Piñon.
Estavam presentes 19 acadêmicos; outros 18 votaram por carta.
Em sua posse, Gullar deve ser recebido por Antonio Carlos Secchin, que liderou a campanha por sua eleição. Secchin deixou a sala onde aconteceu a cerimônia radiante. "Ele não precisava de ninguém para alavancá-lo, mas, como tenho prática da casa, tentei viabilizar certas coisas administrativas, dei sugestões a ele, falei com acadêmicos para articular a coleta de cartas caso alguém não estivesse presente", disse o acadêmico e amigo.
Após a eleição, haverá uma recepção para Gullar.
José Ribamar Ferreira adotou aos 18 anos o pseudônimo de Ferreira Gullar. Um ano mais tarde publicou seu primeiro livro, "Um Pouco Acima do Chão". Mudou-se para o Rio em 1951, onde participou da fase inicial do movimento concretista ao lado dos poetas Augusto de Campos (1931), Haroldo de Campos (1929-2003) e Décio Pignatari (1927-2012). Rompeu com o movimento em 1957 por considerá-lo excessivamente racional. Gullar defendia mais subjetividade, o que resultou na fundação do movimento neoconcreto, do qual faziam parte os artistas Amilcar de Castro (1920-2002), Aluísio Carvão (1920-2001), Franz Weissmann (1911-2005), Hélio Oiticica (1937-1980), Lygia Clark (1920-1988), Lygia Pape (1927-2004), Reynaldo Jardim (1926-2011) e Theon Spanudis (1915-1986).
A partir da década de 1960 a obra de Gullar passou a refletir seu engajamento político. Com o AI-5, Gullar foi preso e passou a viver no exílio a partir de 1971. É dessa época seu livro mais conhecido, "Poema Sujo" (1976).
A edição completa de seus poemas, "Toda Poesia", foi publicada em 1980. Gullar recebeu diversos prêmios ao longo da vida, entre eles o Prêmio Camões, em 2010.
Os acadêmicos aguardam com ansiedade o discurso de Gullar. Alberto Venancio, imortal e estudioso da história das eleições da Academia, diz que a cadeira 37 é conhecida por excelentes discursos de posse.
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