• Quem surpreendeu foi o candidato mais partidário
- Valor Econômico
A delação do diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa mostra que o estrago na bancada do PT poderia ter sido bem pior, mas a perda de 18 deputados, a maior entre os grandes partidos, interrompeu a escalada da bancada petista que só crescia desde 1998.
Com o PSDB aconteceu o inverso. De lá pra cá o partido só perdeu deputados. Nesta eleição, parou de cair.
Quando Marina Silva entrou na campanha, parecia que o mundo seria dos bons mas foi o candidato mais partidário que surpreendeu no primeiro turno.
Aécio Neves passou os últimos dois anos dedicados à unidade que tanto faltou à sua legenda nas três últimas disputas presidenciais. Deslocou os paulistas da presidência do PSDB, assumiu o cargo e centralizou as decisões sobre as alianças estaduais em 2014 de cujos palanques tanto se valeu no domingo.
Ainda não se esgotaram as explicações para a surpreendente votação do candidato tucano no primeiro turno, mas nenhuma delas pode passar por cima da evidência de que o volume de campanha da rede de vereadores, prefeitos, deputados e governadores do PSDB fizeram diferença na hora de mostrar ao eleitor quem teria mais condições de derrotar o PT.
O PSDB estancou a curva declinante que marcou o desempenho eleitoral do partido na Câmara dos Deputados e, das grandes legendas, foi a única a não perder cadeiras. Conseguiu, em São Paulo, a vantagem que esperava obter em Minas. Surfou no antipetismo paulista? É provável, mas foi por estar grudado no partido que mais representa a rejeição ao PT que arrecadou para si a fatura que nesta reta final parecia estar na conta de Marina.
Escolheu para vice Aloysio Nunes Ferreira, um senador com trânsito pelas muitas alas do PSDB e cuja base eleitoral está fincada no interior do Estado. Quando se via deixado para trás nos eventos de campanha com Geraldo Alckmin saía na cola sem descuidar da raia miúda da política municipal que tem no governador paulista seu mais bem sucedido representante.
Ainda terá que se mostrar capaz, no segundo turno, de manter ao seu lado tanto Alckmin quanto José Serra, os maiores interessados em que Aécio, se eleito, não prorrogue por oito anos sua permanência no poder.
Aécio ainda depende do empenho do governador no Estado, mas se essa dedicação passar por medidas mais duras para enfrentar a dramática situação dos reservatórios de São Paulo, é até preferível que Alckmin tire uns dias para descansar como o senador mineiro o fez depois do primeiro turno em 2002, 2006 e 2010.
O candidato tucano se diz a favor de um único mandato de cinco anos mas o fim da reeleição não depende dele e também pode enfrentar resistência dos eleitos. Talvez se atreva a tamanha evasiva porque já está no segundo turno e o PSDB - partido e eleitores - não tem alternativa.
O PT terá dificuldades de vencer a muralha que se ergue contra o partido em São Paulo. Espera ampliar a maioria dilmista no Nordeste, mas o quinhão de votos em disputa na região é menos da metade daquele que está em aberto em São Paulo com a saída de Marina.
Ao radicalizar no discurso de partido dos mais pobres, o PT mira as famílias de origem nordestina estabelecidas nas grandes cidades que deixaram parentes na região. Levantamento do Valor mostrou que é nas 200 cidades com mais de 100 mil eleitores, correspondentes a metade do país, que está concentrado o eleitorado de Marina.
As pesquisas divulgadas ontem mostram que nesta primeira rodada, a candidatura de Aécio atrai o voto de sete em cada dez eleitores de Marina. Para ameaçá-lo, Dilma Rousseff terá que conquistar pelo menos um desses eleitores marinistas que parecem migrar para o PSDB.
Com o fim das disputas proporcionais e de quase a metade das majoritárias, é natural que a capacidade de arregimentação partidária de Aécio e de Dilma se reduza. Vem daí o discurso mais ideológico de ambos os lados que já antagoniza os dois ex-presidentes da República.
A eficácia da radicalização do discurso de ambos os partidos na conquista de 22 milhões de votos ainda está por ser provada. Corre o risco de aumentar o absenteísmo que cresceu, neste primeiro turno, ainda que moderamente.
Marina ganha tempo para tomar partido neste segundo turno. A disputa acirrada valoriza seu passe. Pode mostrar que aprende com seus erros. Optou pela neutralidade em 2010 para preservar seu patrimônio eleitoral. Quatro anos depois, seu quinhão de votos cresceu apenas 7%, menos que o pibinho do governo Dilma Rousseff.
Nada garante que se fechar com Aécio neste segundo turno estará mais próxima da Presidência da República em 2018, tamanhas as evasivas tucanas sobre o fim da reeleição, mas a neutralidade lhe traria perdas para além da aritmética. Ao eleitor é facultado o voto em branco ou nulo. À liderança política, a omissão cobra um preço mais alto.
Em 2010, a neutralidade parecia rimar com seu intuito de pairar acima dos partidos. Desta vez, adere porque corre o risco de ser engolida por eles. Abrigou aliados seus no PSB para que buscassem vaga na Câmara e formassem a base do futuro Rede. Apenas um se elegeu.
Tivesse rumado para qualquer um dos lados em 2010 teria tido condições de negociar um maior grau de compromisso dos candidatos em disputa com a principal batalha da legislatura que estava para se iniciar, a do Código Florestal.
Ao anunciar os pontos em que condiciona seu apoio a Aécio, Marina cumpre o figurino de candidata programática. Aécio, se aceitá-los, o de que se amplia para abarcar o Brasil. O acordo não impede que, iniciada a legislatura todos os pontos acordados fiquem na dependência do Congresso.
Os mais antigos colaboradores de Marina torcem o nariz para a união com os tucanos, mas a Marina parece não restar alternativa para viabilizar sua legenda por dentro do jogo.
Seja quem for o eleito, haverá forte pressão para que se mitiguem os incentivos à criação de partidos e se promovam fusões na extraordinária miríade de 28 legendas. É esta a janela de oportunidade para o Rede. Não é nova, mas é política. E ainda não se inventou um jeito de ganhar eleição por fora dela.
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