• Suborno na Petrobras, segundo Costa, correspondia a 3% do valor dos contratos
• Citado pelos depoentes, Vaccari refutou as acusações e disse que todas as doações ao PT são feitas dentro da lei
Mario Cesar Carvalho, Flávio Ferreira, Alexandre Ara e Samantha Lima – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO, RIO - O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef apontaram em interrogatório na Justiça que o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, recebia para o partido recursos desviados de obras da estatal.
"A ligação era diretamente com ele", disse Costa em interrogatório em Curitiba (PR), na quarta-feira (8).
Vaccari refutou as declarações e disse que todas doações ao PT são feitas dentro da lei.
Três partidos se beneficiaram desse esquema: PT, PMDB e PP, segundo os depoentes. O doleiro disse que o intermediário do PMDB era o lobista Fernando Soares e ele próprio cuidava do suborno destinado ao PP.
Para Costa, as empreiteiras envolvidas no escândalo da Petrobras pagavam propina por receio de sofrer retaliação em concorrências do governo. "No meu tempo lá, eu não lembro de nenhuma empresa ter deixado de pagar."
Foi o primeiro interrogatório de Costa e Youssef após ambos terem feito um acordo de delação premiada para escapar de penas que podiam chegar a 50 e 100 anos, respectivamente. Eles foram presos em março, sob acusação de comandarem um dos maiores esquemas de lavagem de dinheiro no país.
O suborno na Petrobras, segundo Costa, correspondia a 3% do valor líquido dos contratos da Petrobras.
O ex-diretor disse que, desses 3%, 2% ficavam com o PT e 1% ia para o PP, partido que indicou Costa para o cargo na Petrobras em 2004. Ele ficou na estatal até 2012, quando foi demitido pela presidente Dilma Rousseff (PT).
Costa contou que o desvio dos 3% valia para contratos em todas as diretorias da Petrobras. Nas encabeçadas por indicados pelo PT --a de exploração e produção, a de gás e energia e a de serviços, segundo ele--, os 3% iam integralmente para o partido.
A atual presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, foi diretora de gás entre 2007 e 2012, cargo ocupado antes por Ildo Sauer.
Guilherme Estrella foi diretor de produção e exploração entre 2003 e 2012. Renato Duque foi diretor de serviços entre 2004 e 2012. Costa, no entanto, não citou nominalmente Graça, Estrella e Sauer.
Segundo ele, a diretoria internacional, em que trabalharam Nestor Cerveró (2003 a 2008) e Jorge Zelada (2008 a 2012), abastecia o PMDB com 1% do valor dos contratos.
Em seu depoimento, Youssef contou que num contrato da Camargo Corrêa para a refinaria Abreu e Lima, de R$ 3,48 bilhões, o suborno que ele tinha conhecimento chegou a 2%. De acordo com ele, PT e PP receberam R$ 34 milhões cada um. A refinaria, de R$ 40 bilhões, é a obra mais cara em curso no Brasil. O ex-diretor da Petrobras disse que o contrato foi superfaturado para que houvesse suborno.
O doleiro disse que os acertos sobre propina eram feitos em reuniões com políticos, Costa, executivos de empreiteiras e ele próprio. O encontro ocorria em hotéis ou na casa de políticos, segundo ele. Os acordos eram registrado em atas, de acordo com ele.
A ação penal em que Costa e Youssef são réus, sobre desvios na Petrobras, corre sem segredo de Justiça. Por isso, os depoimentos foram disponibilizados nesta quinta-feira (9) pela Justiça Federal.
Os dois, no entanto, foram alertados pelo juiz Sergio Moro que não poderiam citar o nome de políticos nos depoimentos, já que eles têm foro privilegiado e só podem ser processados pelo Supremo.
Auxiliares de Dilma querem que Vaccari deixe a tesouraria do partido. Também pressionam para que ele saia do conselho de administração de Itaipu. O PT, porém, resiste ao afastamento.
Colaboraram Natuza Nery, Andréia Sadi e Valdo Cruz, de Brasília
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