- O Estado de S. Paulo
Quando a presidente da República e os líderes do PT no Congresso exortam a oposição a "descer do palanque", deixam de lado um simples e evidente fato: o papel de quem perde é trabalhar para tentar ganhar a eleição seguinte. Isso significa prosseguir na atividade política na posição antagônica ao governo, fiscalizando, debatendo, denunciando quando for o caso, enfim, vivendo a vida conforme os ditames das urnas.
O resultado elegeu um governo, mas não determinou que a força política derrotada eleita fosse empacotada, jogada no lixo e tragada pelos votos da maioria; que desaparecesse ou se calasse até a próxima campanha eleitoral. Ao contrário. A fim de que se mantenha em funcionamento pleno a democracia, o ideal é que todas as vozes permaneçam atuantes.
Assim como fez o PT quando perdeu por três vezes seguidas a eleição para a Presidência da República. Nem sempre saindo da derrota conforme o figurino daqueles que sabem ganhar. Lula reclamou muito, externou contrariedade, mas, é verdade, não chegou ao ponto de Tarso Genro e seu "Fora FHC" de triste memória em 1999, repudiado pela direção do PT.
Diante disso é de se perguntar agora que parte do exercício legítimo da oposição o PT não compreendeu. Estaria, talvez, o partido assustado com o fato de pela primeira vez não poder fazer ao mesmo tempo o papel de ponto e contraponto que vem cumprindo nos últimos anos? É possível.
Como não encontrava voz que o contraditasse o próprio governo se contradizia. Denunciava as mazelas e jogava todas elas para um passado remoto como se já não estivesse no poder há 12 anos. Agora com a oposição dando sinais de vida o PT parece que se desarvora.
O líder do partido no Senado, Humberto Costa, por exemplo, diz que a oposição "não consegue ver que perdeu a eleição" porque quer manter a polarização política. Ora, por favor. Justamente porque perderem a eleição é que os oposicionistas fazem a política por meio da tensão com o governo. Ou o PT nunca ouviu falar disso?
Ouviu e praticou. Falta apenas reconhecer ao adversário o direito de ser tão oposicionista como sempre foi e, para usar as palavras da presidente, "saber ganhar". Para um jogo leal, de preferência sem usar a máquina do governo, que não é do PT. É de todos os brasileiros.
Provocação. Os "recados" mandados por intermédio de notícias na imprensa do Congresso ao Palácio do Planalto sobre a disposição de a maioria da Comissão de Constituição e Justiça do Senado não aprovar o nome do ministro da Justiça, caso seja ele o indicado para ocupar a vaga de Joaquim Barbosa no Supremo Tribunal Federal, pelo jeito tem o objetivo de "queimar" o nome de José Eduardo Cardozo.
Se a ideia fosse mesmo impor uma derrota dessa monta à presidente, o PMDB e companhia não sairiam por aí dando aviso prévio. Fariam uma ingrata e inédita surpresa.
De qualquer forma, dadas as circunstâncias e a nova formação da oposição na Casa, quem quer que seja o indicado vai enfrentar uma sabatina bem diferente da formalidade habitual.
Sai de baixo. As características da presidente Dilma Rousseff, que na campanha de 2010 e no início do primeiro mandato foram realçadas pela propaganda do Palácio do Planalto para construir a imagem da governante intransigente, eficiente, austera, impermeável, implacável e impositiva, são as mesmas que criaram entraves à dinâmica do governo e agora, na formação da equipe para o segundo mandato, afugentam figuras de perfil independente - e, por que não dizer?, biografia a zelar - que estariam no radar do Planalto para integrar o Ministério.
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