- O Estado de S. Paulo
Na forma, a reaparição da presidente reeleita Dilma Rousseff cumpriu o objetivo de sugerir uma chefe de governo mais consciente da crise econômica e determinada a combater a corrupção - os pontos vulneráveis que marcam o fim de seu primeiro mandato.
O conteúdo da primeira entrevista coletiva, porém, trai esse discurso em várias passagens. Foi uma entrevista caracterizada pela negação - de causas da crise econômica e dos meios para enfrentá-la.
A alta dos juros, logo após o fechamento das urnas, é agora atribuída a uma conveniente autonomia do Banco Central, usada para recusar-se a comentar a medida.
Dilma repete o discurso que torna excludentes combate à inflação e emprego ao não se comprometer com a meta da primeira, sugerindo mais uma vez que pretende governar com um pouquinho de inflação.
Coletiviza a dificuldade pessoal e de governo ao abordar o resgate do crescimento. "Não acho que ninguém tenha receita prontinha", diz sobre o tema, em uma evasiva que é o pior recado para os investidores.
Para quem entra no quinto ano de um mandato que será de oito, é inquietante ouvir da presidente que não tem uma meta quantitativa de redução de gastos. "Se eu tivesse, dizia tudinho aqui", afirmou.
Insiste em que não há queda de empregos, desprezando a tendência descendente no cômputo geral, mas especialmente as baixas no setor industrial, e contesta as estatísticas do Ipea sobre o crescimento da pobreza extrema, ocultado durante a campanha, quando os dados já estavam disponíveis.
Continua negando as dificuldades e prejuízos bilionários no campo energético, celebrando o uso das usinas térmicas, mesmo ao custo de agravamento do rombo no setor.
A entrevista sugere que os maus resultados não produziram a autocrítica necessária sobre o primeiro mandato, que registra um rombo recorde de R$ 20 bilhões nas contas públicas, inflação alta, crise energética (negada), juros na casa dos 12%, com viés de alta, aumento das tarifas de gasolina e luz, descrédito internacional e um cenário de corrupção da qual a Petrobrás passou a ser o símbolo.
A fala da presidente remete à leitura de que não pensa o novo ministro da Fazenda sob o prisma da delegação de responsabilidade, prospectando a permanência do conceito centralizador para a próxima gestão.
Tal constatação reforça o sentimento de que pouco adiantará o anúncio de um ministro da Fazenda sem autonomia mínima. Seja quem for o escolhido, fica a impressão, estará submetido às convicções econômicas da presidente, que não parecem ter mudado.
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