• O PMDB pode tolerar a arrogância petista, mas não ao ponto de aceitar seu próprio fim
- Folha de S. Paulo / Ilustrada
Gostaria de deixar claro que, muito embora tenha criticado a atuação de Dilma Rousseff e do PT durante a campanha eleitoral, não torço para que seu governo fracasse, mesmo porque o que está em jogo, neste caso, é o interesse do país e, consequentemente, o interesse de todos nós.
Na última crônica, afirmei que Dilma terá de enfrentar graves problemas, tanto no plano econômico e político, como nos escândalos que envolvem a Petrobras e o próprio partido do governo. Não me rejubilo com isso. Apenas constato o que está evidente para todo mundo que acompanha a vida política brasileira.
Não resta dúvida que o escândalo das propinas, na Petrobras, não foi inventado pela imprensa, como já agora admite a própria Dilma.
Não sei qual é o grau de envolvimento que têm ela e Lula com esses escândalos, mas espero, como todo cidadão, que os fatos sejam apurados e os culpados, punidos. E certamente ela própria, a presidente da República, pensará assim, uma vez que, durante a campanha eleitoral, sempre se declarou contra a corrupção e a favor da punição dos culpados. Quanto a esse ponto, portanto, podemos ficar tranquilos. Ou não?
Que Dilma neste segundo mandato enfrentará grandes dificuldades não é opinião apenas minha, mas sim da maioria dos comentaristas políticos e até mesmo de gente do governo. E isso se tornou evidente, mais cedo do que todos esperavam, uma vez que, dois dias após sua vitória nas urnas já a Câmara dos Deputados recusava sua proposta de criação dos conselhos populares. Ela já havia feito a proposta de reforma política através de plebiscito, como resposta às manifestações populares de junho do ano passado. Não houve receptividade dos parlamentares.
A derrota de Dilma, agora, surpreendeu a todo mundo, inclusive, creio eu, a ela própria e seu pessoal, conforme se deduz da declaração do secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, para quem a decisão da maioria dos deputados foi uma vitória de Pirro, que seria, além do mais, "anacrônica e contra a vontade irreversível da população". Quem disse isso a ele, não se sabe.
Trata-se, sem dúvida, da declaração de alguém que ficou surpreso e indignado com a tal derrota, e a tal ponto que agrediu a seu principal aliado no Congresso, que é o PMDB, cujos dirigentes consideram a criação dos conselhos populares um modo de enfraquecer o Legislativo.
Na verdade, a criação dos conselhos populares seria um avanço. Errado seria entregar a eles a realização da reforma política, que implica o conhecimento cabal das questões jurídicas e políticas envolvidas em tal tarefa. É claro que a maioria das pessoas --e aí me incluo-- não tem conhecimento e capacidade exigidos para a realização de uma reforma dessa natureza.
Falando francamente, a proposta de Dilma Rousseff é, como frequentemente ocorre, populista, ou seja, apela para aquele setor da sociedade que, usufruindo da generosidade oficial, pode ser facilmente manipulado.
Ao contrário do que afirmou o ministro Gilberto Carvalho, anacrônico é tentar sobrepor a chamada massa popular ao Congresso, democraticamente eleito para legislar, como têm feito os governos bolivarianos. O PMDB pode tolerar a arrogância petista, mas não ao ponto de aceitar seu próprio fim.
Em sua declaração, o ministro dá a entender que a derrota da proposta de Dilma se deveu à oposição, quando se sabe que esta não tem o número de deputados suficiente para derrotar o governo. Renan Calheiros chegou a garantir isso, ao afirmar que também no Senado a proposta oficial seria rejeitada.
Outra surpresa destes primeiros dias após a reeleição foi a inesperada decisão do Banco Central, aumentando a taxa Selic para 11,25%.
Ninguém contava com isso, mesmo porque, durante toda a campanha eleitoral, a candidata petista garantia que seu oponente, se eleito, aumentaria os juros e com isso provocaria milhões de desempregos. Por isso, ninguém sabe se esse aumento dos juros foi decisão dela mesma ou rebeldia do Banco Central.
Nesta semana, mais surpresas: caiu para 0,24% a previsão do crescimento e surgiu novo escândalo, agora envolvendo a Transpetro, subsidiária da Petrobras. E o segundo mandato de Dilma ainda não começou.
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