domingo, 9 de novembro de 2014

Pressão de todos os lados

• À desastrosa indecisão de Dilma na economia, somam-se os apertos na política: focos de resistência nos aliados, derrotas inevitáveis no Congresso e o petrolão

Daniel Pereira e Adriano Ceolin – Veja

PT e PMDB são os grandes partidos da base de apoio a Dilma Rousseff e também — em paradoxo apenas aparente — as maiores fontes de pressão política sobre a presidente reeleita. Os peemedebistas se sentem sub-representados na administração pública, e não perdem a oportunidade de lembrar que foram tirados do Ministério da Saúde. Os petistas reivindicam apoio mais explícito da presidente a seus arcaísmos ideológicos e compromissos bolivarianos, que vão da censura à imprensa à estatização crescente da economia. No primeiro mandato, Dilma conseguiu resistir do alto de seus 12 milhões de votos de vantagem sobre José Serra, candidato da oposição. O cenário atual é diferente. Dilma ganhou por uma margem bem menor de votos, tem um PIB estagnado e há um clamor popular por mudanças. Grandes farejadores de fragilidades, os aliados estão vendendo muito mais caro o seu apoio.

O desafio mais urgente do governo é acertar os ponteiros com o PMDB. O partido usa sua estratégia de sempre. São muitos PMDBs. cada um obediente a um líder diferente. Mas, quando ameaçadas, as partes se juntam em um todo organizado e único. É nessa condição que o PMDB tem a presidência da Câmara e do Senado. É nessa condição que reivindica agora os ministérios da Saúde e da Educação. Mais difícil ainda para Dilma é atender à exigência do partido de que ela dê seu apoio à candidatura de Eduardo Cunha, deputado do PMDB do Rio de Janeiro, à presidência da Câmara. Dilma considera Cunha a personificação do fisiologismo. Ensaiou resistir a ele. Chegou a torcer, quem diria, para que os delatores do esquema de corrupção na Petrobras o implicassem no caso — e que isso se tornasse público. O raio não caiu na cabeça de Cunha e ele se fortalece a cada semana. Emissários da presidente já o procuraram para acertar uma conversa. Na semana passada, o vice-presidente Michel Temer pediu ao deputado que se apresentasse como um candidato governista e parasse de desafiar a presidente. As bases do entendimento estão lançadas, como ficou claro na declaração de Cunha: !"Não farei da presidência da Câmara uma trincheira da oposição, mas não serei um subalterno do Planalto".

No Senado, a pauta do PMDB é mais diversificada. O partido quer o apoio de Dilma à reeleição de Renan Calheiros para a presidência da Casa e o direito de indicar os próximos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal de Contas da União (TCU). O PMDB deixou claro que, pelo menos por agora, não apoiará a esperada indicação do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, ao Supremo. "É um nome muito político. Não é o momento disso agora", afirmou o senador Romero Jucá. Os peemedebistas também prometem barrar a indicação da ministra Ideli Salvatti para o TCU. O PMDB tem seu candidato ao posto: o senador Vital do Rêgo. Ele ganhou a confiança dos colegas de partido ao presidir as CPIs do Cachoeira e da Petrobras, mesmo que elas não fiquem para a história como modelos exemplares do Poder Legislativo para investigar e punir. Ou talvez, como maldizem os adversários, por isso mesmo.

Controlar a Câmara e o Senado confere ao PMDB um peso específico na política que não pode ser simplesmente ignorado pelo governo. Como dizer não ao PMDB e, ao mesmo tempo, ver aprovado o projeto de lei que mais vivamente interessa ao governo agora — o que autoriza a redução do superávit primário? Se aprovado, o projeto de lei vai permitir ao governo diminuir a parcela do Orçamento destinada ao pagamento dos juros da divida pública e aumentar os investimentos. Ignorado pelo governo, o PMDB pode também aprovar leis como a que aumenta salários e gastos do Poder Judiciário, o que tem sido visto como uma bomba para as contas públicas. Embora mais ruidoso e rábico, o PT é uma ameaça menor para Dilma. "Eu não represento o PT. Eu represento a Presidência", disse ela. Os petistas de São Paulo, fortemente castigados pela vontade popular nas umas, são os mais ávidos por cargos de primeiro escalão no governo.

Até agora, o segundo mandato de Dilma na Presidência parece que terá todos os vícios do primeiro e nenhuma das virtudes que se espera da vencedora de uma eleição muito disputada e conquistada com uma estreita margem de votos.

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