– O Estado de S. Paulo
A margem de manobra quando Dilma Rousseff (PT) começou a governar, quatro anos atrás, era 3 vezes maior que a atual. As pesquisas já divulgadas mostraram saldo positivo de avaliação da presidente pouco acima de 20 pontos. Foi suficiente para reelegê-la, mas não basta para fazer o que quer, com quem quiser e do jeito que bem entender no seu segundo mandato. Dilma não mudou, mas suas circunstâncias sim. E isso faz toda a diferença.
É esperado que, sem a propaganda diária na TV, a taxa de ótimo e bom do governo Dilma – como a de qualquer governo após passar a eleição – oscile um pouco para baixo. Isso faria a presidente começar o novo governo com um terço do saldo de popularidade com que iniciou seu primeiro mandato. Ou seja: uma terça parte da gordura que tinha para queimar quando chegou ao poder em 2011.
Em março daquele ano, três meses após Dilma vestir a faixa presidencial, 56% achavam seu governo bom ou ótimo. Só 5% diziam que era ruim ou péssimo. O saldo manteve-se na zona de alto conforto pelo menos até junho de 2013, pré-manifestações. Foram dois anos e meio de bonança, que permitiram à presidente fazer o que queria, com quem quisesse e do jeito que bem entendesse.
É provável que circunstâncias favoráveis até demais tenham alimentado arroubos de autossuficiência e voluntarismo. Aprovação alta de cara, antes de realizar algo além de gastar a herança, tende a mimar o estreante. Acostuma mal. Custa caro.
Mesmo após a avalanche de junho de 2013 quase zerar sua popularidade e estimular desejos de renovação no eleitorado, Dilma resistiu a se adequar ao novo cardápio de possibilidades políticas. Criou novidades como o Mais Médicos, mas insistiu em mais do mesmo na economia. Quando veio a eleição, precisou ajustar o discurso e sinalizar mudanças. Passou raspando.
A perda de capital político custou a Dilma não apenas o susto na eleição, mas um processo eleitoral interminável. Derrotada quatro vezes seguidas, a oposição tenta compensar a falta de votos alimentando um terceiro turno nas páginas, nas ruas (com pouco êxito), no Congresso (com algum sucesso, mas só por causa do PMDB) e nos tribunais (onde deposita sua maior esperança).
A tentativa de vender derrota como vitória não exime – ou não deveria eximir – o PSDB de se perguntar como perdeu a eleição presidenciável mais fácil que teve pela frente desde a vitória de Fernando Henrique Cardoso em 1994. Sim, porque a eleição de 1998 foi ganha contra o desejo majoritário de mudança, e as derrotas de 2002, 2006 e 2010 se explicam pelo cenário pró-PT.
O PSDB perdeu em 2014 porque errou no diagnóstico e, por consequência, na estratégia. Não priorizou a economia (ao priorizar corrupção, inflação, saúde e educação, não priorizou nenhuma), pregou só para convertidos, não fez nada para deixar de parecer elitista, além de continuar culpando o eleitor, principalmente o do Nordeste, por não votar no partido.
Há quem veja na volta da equipe econômica palocciana uma vitória do discurso eleitoral tucano. É Natal e há quem acredite também em Papai Noel. A dupla Levy-Barbosa na Fazenda-Planejamento mostra que Dilma enfim cedeu às circunstâncias. O duplo fusível que ela instalou no comando da economia reduz as chances de a presidente se queimar se as coisas derem errado. Um dos futuros ministros se queimará antes, e poderá ser trocado pelo outro. Mas fusível, sozinho, não previne incêndio.
Para sobreviver ao terceiro turno, a petista, à diferença de 2011, terá que administrar escassez em vez de abundância. O pequeno saldo de popularidade pode se transformar em déficit quão mais rapidamente ela repetir práticas do primeiro mandato. A margem é estreita, e a presidente parece ter notado.
Por ora, as circunstâncias falaram mais alto do que Dilma – para surpresa dos circunstantes. Foi necessário. Será suficiente?
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