- O Estado de S. Paulo
A tensão instalada em Brasília, no retorno dos parlamentares da campanha, após conhecidas as primeiras informações sobre a delação premiada de Paulo Roberto Costa, desmente a naturalidade com que o ex-presidente Lula tenta administrar os danos políticos das denúncias.
Lula classificou as denúncias do ex-diretor da Petrobrás na categoria das insinuações que não se comprovam depois, o que não guarda qualquer relação com a realidade.
A consistência do depoimento de Costa pode ser medida pelo despacho em que o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, o homologa. Nele o ministro considera, de forma explícita, que se confirmam os elementos de participação de autoridades com direito ao foro especial, inclusive parlamentares federais.
O conteúdo do depoimento de Costa ao juiz Sérgio Moro, do Paraná, que não está sob segredo de justiça, é apenas a ponta do iceberg do escândalo que deverá se consolidar, mais à frente, como um dos maiores da história política nacional.
O conteúdo que o STF homologou tem informações que o ex-diretor da Petrobrás mantinha criptografadas e que detalha o esquema implantado na empresa. Sua entrega ao Ministério Público explica a velocidade do cumprimento do acordo judicial que resultou na liberdade de Paulo Roberto Costa, já em casa.
Para a presidente Dilma Rousseff, o que se tornou conhecido é devastador, porque vem a público no momento em que sua campanha tenta mostrá-la intolerante com a corrupção. Tendo abastecido campanhas do PT, PMDB e PP, não será surpresa se o esquema tiver incluído a própria campanha presidencial de 2010, mesmo à revelia da presidente.
A dimensão do episódio, e o desdobramento que prenuncia, talvez expliquem a reação imprópria de Dilma, cuja indignação foi quanto à publicidade do depoimento de Costa e não ao seu conteúdo.
Uma breve volta ao ano de 2005 encontrará a então ministra das Minas e Energia envolvida nas negociações políticas em torno dos cargos de diretoria da Petrobrás, quando o então deputado Severino Cavalcanti cobrou para seu partido, o PP, citado por Costa como um dos beneficiários do esquema, a "diretoria que fura poço", que lhe havia sido prometida pelo então presidente Lula no avião que o levou a Roma, com Severino a bordo.
Severino não levou o que queria, por oposição da própria Dilma, mas o PP ficou na Petrobrás loteada ainda entre PT e PMDB. O depoimento de Paulo Roberto Costa, até aqui, está em perfeita sintonia com a cronologia dos fatos.
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