• A alternativa de Joaquim Levy, caso o ajuste fiscal seja rejeitado pelo Congresso, será aumentar os impostos ou pegar o boné
- Correio Braziliense
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que se cuide. Está sendo testado por todo mundo. O nível de solidariedade no governo com a nova política econômica é muito baixo. A presidente Dilma Rousseff, que bancou o ajuste fiscal, não assume o cavalo de pau na economia e arranca os cabelos por causa das críticas que vem sofrendo dentro do PT. O ajuste fiscal corre sério risco de ficar pelo meio do caminho por falta de apoio da base do governo.
Os sinais de que falta sustentação política ao ajuste chegam a galope. As medidas de contenção de gastos no governo enfrentam resistências de toda ordem, às vezes até na própria área econômica da Esplanada. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o enxugamento proposto na Apex-Brasil, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, que atua para promover produtos e serviços brasileiros no exterior e atrair investimentos estrangeiros.
A Apex realiza ações de promoção comercial e eventos no exterior, como missões comerciais, rodadas de negócios, apoio à participação de empresas brasileiras em grandes feiras internacionais, visitas de compradores estrangeiros e formadores de opinião. Teoricamente, coordena os esforços de atração de investimentos estrangeiros diretos para o Brasil; na prática, isso somente vai acontecer se o ajuste fiscal for bem-sucedido.
Na situação que o país enfrenta, esses gastos são supérfluos. Mas a estrutura da Apex é imensa, com escritórios luxuosos em Dubai, Luanda, Havana, São Francisco, Miami, Bogotá, Pequim, Bruxelas e Moscou. A equipe econômica propôs transferir os escritórios para as embaixadas. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro, não aceitou.
Aliado poderoso de Dilma Rousseff em Pernambuco e ex-presidente da poderosa Confederação Nacional da Indústria (CNI), Monteiro é padrinho político do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) José Múcio Monteiro, novo relator do caso de Pasadena. Bateu o pé. Usou o argumento de que o dinheiro era do Sistema S, e não do Tesouro. Levy foi obrigado a recuar.
Alta do dólar
Os testes não param por aí. O Banco Central (BC) parou de intervir no câmbio, por orientação de Levy. Para os investidores, foi um sinal de que a inflação não será combatida com medidas heterodoxas e artificiais. A receita será outra: disciplina fiscal e política de juros. Foram suspensas as cotações por meio de leilões de swaps cambiais, equivalentes à venda de moeda estrangeira no câmbio futuro.
A nova escalada do câmbio, porém, sugere que o mercado está testando o ministro da Fazenda. O dólar voltou a fechar em forte alta ontem. A moeda norte-americana subiu 1,33% frente ao real, cotada a R$ 2,8742. Este é o maior valor desde 25 de outubro de 2004, quando o dólar fechou cotado a R$ 2,8817 na venda, segundo dados do Banco Central.
A alta foi puxada por incertezas sobre o futuro da Grécia na zona do euro. Mas também sofre a influência da deterioração da nossa economia. Os resultados do PIB em 2014 vão decepcionar; o mercado prevê estagnação ou retração econômica, agravada pelo risco de racionamento de energia elétrica e de água tratada.
Outro fantasma é o iminente rebaixamento da qualidade dos títulos de dívida do Brasil pelas agências de classificação de risco. O escândalo da Petrobras e a crise que se abateu sobre as demais empresas envolvidas na Operação Lava-Jato causarão um grande estrago. Haverá aumento dos juros cobrados em empréstimos e financiamentos ao Brasil e às empresas brasileiras.
Acuado pelas denúncias de corrupção na Petrobras e pela queda de Dilma Rousseff nas pesquisas, o PT lidera o fogo amigo contra Levy. No Senado, Gleisi Hoffomann (PT-SC) e Lindbergh Farias (PT-RJ) se opõem abertamente às propostas de ajustes. Na Câmara, o líder do PT, Sibá Machado (AC), admitiu que as mudanças na legislação trabalhista não serão aprovadas como vieram do Executivo.
Na verdade, das 750 emendas apresentadas às medidas provisórias do ajuste até agora, 450 são de parlamentares da base do governo. Elas alteram as regras para concessão de abono salarial, seguro-desemprego, pensão por morte e auxílio-doença. O fogo amigo é tão intenso que parlamentares da oposição até desistiram de apresentar emendas. A alternativa de Joaquim Levy, caso o ajuste fiscal seja rejeitado pelo Congresso, será aumentar os impostos ou pegar o boné.
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