Joaquim Levy é o ministro que Dilma Rousseff pediu a Deus. Com seu jeitão de antípoda do petista-padrão, executa as maldades que a presidente não quer ver creditadas na conta dela. O arrocho em marcha é de Dilma e do PT; o ministro da Fazenda é mero instrumento útil para levá-lo adiante.
Nos últimos dias, ministro e presidente pareceram divergir. Na sexta-feira, Levy chamou de “grosseira” a política de desoneração da folha levada adiante por Dilma no primeiro mandato – uma “brincadeira”, segundo ele, que custa R$ 25 bilhões ao país sem produzir resultados apreciáveis na forma de empregos criados.
No sábado, a presidente rebateu e disse que seu ministro foi “infeliz” nos adjetivos empregados. Pareceu mais uma – a mais grave até aqui – desavença entre chefe e subordinado, cujos limites de atuação seriam mais estreitos do que se supõe até agora. Pode, contudo, não ter sido nada disso.
Naquilo que interessa ao governo, nada mudou. O mérito da discussão manteve-se intocado: o governo baixou medida provisória que eleva em até 150% a contribuição sobre a folha de salários e mais um passo do arrocho – que inclui aumento de impostos, corte de direitos trabalhistas e de benefícios previdenciários e tesouradas no Orçamento – foi dado.
No essencial, é disso que se trata: Levy faz o serviço sujo, Dilma posa de indignada, mas o curso das medidas recessivas mantém-se. É uma espécie de balé do arrocho, com papeis previamente combinados. O ministro da Fazenda é o mais conveniente bode expiatório com quem o PT poderia sonhar.
As medidas anunciadas até agora representam ajuste de R$ 111 bilhões nas contas do governo, segundo estimativa publicada hoje pelo Valor Econômico. Bem mais, portanto, que o previsto como necessário para produzir superávit de 1,2% do PIB neste ano. Entre as áreas atingidas pelos cortes, o Ministério da Educação, por exemplo, perderá 31% de sua dotação para este ano. Nunca um slogan de governo foi tão enganoso…
Tamanho arrocho poderia soar como austeridade de cristã nova, recém-convertida à responsabilidade fiscal. É, todavia, a forma – provavelmente excessiva – que Dilma encontrou para dar algum respiro a seu governo. Como na história da vacina, é na dose do antídoto que repousa a diferença entre a salvação e a morte.
As críticas que Joaquim Levy vez por outra dispara são a forma mais suave de Dilma Rousseff ir deixando pelo caminho a ruinosa política econômica na qual insistiu durante seu primeiro mandato, a despeito de todas as indicações de que só produzia fracassos. Graças ao ministro, convenientemente ela pode sepultá-la sem assumir a culpa pelos erros que cometeu. As maldades são ilimitadas.
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