- Folha de S. Paulo
A efetivar-se a expectativa de queda de 1% do PIB em 2015, a renda per capita brasileira terá crescido à média anual de 0,6% na primeira metade da década. Nessa marcha, vai levar 120 anos para dobrarmos a produção por pessoa e chegarmos perto da Espanha de hoje.
Por aí se pode ilustrar o tamanho da depressão espiritual que volta a ensombrar o desenvolvimento brasileiro, após uma década de euforia. Mas o exagero vigente no pico do êxtase talvez esteja se repetindo agora, rumo ao vale da angústia.
As estatísticas equiparam aspectos desta crise aos da ocorrida na passagem para os anos 1990. Tomar a parte pelo todo seria desprestigiar a inteligência e ignorar a sólida evolução de indicadores civilizatórios no Brasil do último quarto de século.
Collor tomou posse no ponto agudo de uma deterioração socioeconômica sem paralelos. A renda per capita estagnava havia uma década, e a população crescia e se aglomerava nos centros urbanos em escala que não será repetida. O conflito pelo pão era quase malthusiano, com o número de bocas aumentando às vezes mais que a capacidade de satisfazê-las.
A estabilização monetária, a modernização institucional e a abertura da economia ajudaram na reversão do quadro a partir de meados da década de 1990. A produção por habitante voltou a expandir-se, de início a taxas modestas e depois impulsionada pelo ambiente favorável aos países que, como o Brasil, especializam-se na exportação de produtos básicos.
Abrandou-se a pressão do crescimento populacional e urbano. Na divisão por habitantes, uma alta de 3% da produção hoje equivale a 4,5% no início dos anos 1980. Se o PIB crescer 3% ao ano até 2030, mais de 40% de nosso atraso ante a Espanha atual terá sido anulado. Não parece meta ambiciosa demais, embora requeira esforço considerável no sentido de tornar o Brasil bem mais produtivo.
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