• De janeiro a março, financiamento via poupança foi de R$ 24,07 bi --4,62% menos que no mesmo período de 2014
• Retração não ocorria desde 2002; em número de unidades, queda chega a 11,6%, mostram dados da Abecip
Toni Sciarretta – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - O financiamento imobili- ário, segmento do crédito ao consumidor que mais cresce no país, teve forte retração no primeiro trimestre deste ano, reflexo da diminuição da confiança na economia e da redução nos lançamentos e na atividade da construção civil.
De janeiro a março, foram financiados com dinheiro da poupança R$ 24,070 bilhões --4,62% menos do que no mesmo período de 2014.
É a primeira retração para o período pelo menos desde 2002, quando se iniciou o último ciclo de expansão no crédito no país.
Os dados serão divulgados nesta quinta-feira (30) pela Abecip (associação do crédito imobiliário).
No período, foram financiadas 109.489 unidades --queda de 11,6% em relação ao primeiro trimestre de 2014.
Desde 2002, só houve retração nas unidades financiadas nos primeiros trimestres de 2012 e 2013, mas em níveis bem menores: -0,48% e -2,1%, respectivamente.
A comparação por unidades exclui o impacto da alta nos preços dos imóveis no volume total financiado.
Poupança menor
A retração no crédito imobiliário ocorre em meio à forte saída de recursos da poupança, principal fonte de recursos do setor. No ano, a caderneta já perdeu R$ 30,2 bilhões (até dia 23, último dado) em depósitos.
Diante de recursos escassos, a Caixa Econômica Federal fez dois reajustes nos juros cobrados e passou a priorizar os empréstimos voltados à baixa renda e a imóveis novos, vendidos pelas construtoras, especialmente dentro do programa Minha Casa, Minha Vida. O banco estatal, que tem 70% do crédito imobiliário no país, trabalha com as menores taxas e agora só vai financiar até 50% do valor de imóveis usados.
"Os números do primeiro trimestre acendem a luz amarela no setor, mas ainda é cedo para saber se haverá retração no crédito imobiliário neste ano. Em parte, essa retração é explicada porque muitas construtoras adiaram os lançamentos e priorizaram a retenção dos clientes que já tinham", disse Marcelo Prata, presidente do Canal do Crédito, site que compara taxas de juros.
Efeito minha casa
Segundo Robson Cury, vice-presidente de habitação do Sinduscon-SP (sindicato da construção), o crédito imobiliário foi afetado no início deste ano também pelo atraso na terceira fase do programa Minha Casa, Minha Vida.
A expectativa é que as novas regras do programa saiam ainda no primeiro semestre.
O setor reivindica também uma liberação maior de recursos do empréstimo compulsório (parte dos depósitos retida no BC) para o financiamento de imóveis.
"Poderíamos liberar mais R$ 50 bilhões para o financiamento de imóveis só mexendo no compulsório. É uma forma de contornar a falta de recursos da poupança, enquanto não surgem novas formas de financiamento."
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