- O Estado de S. Paulo
Poucos gráficos contam melhor a ascensão e queda do petismo do que o do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, que o Ministério do Trabalho apelidou de Caged. Para um partido que se denomina dos trabalhadores, é irônico que tudo se resuma a quantas pessoas são empregadas ou demitidas enquanto seus dirigentes estão no poder. Mas as coincidências, como se verá, vão muito além da nomenclatura.
Quando Dilma Rousseff se elegeu e tomou posse da Presidência pela primeira vez, entre o fim de 2010 e o começo de 2011, o Brasil criava cerca de 2 milhões de novas vagas de trabalho formais ao longo de um ano. Era o auge da economia petista e, por tabela, da popularidade de Lula e de seus companheiros.
O ex-presidente batia todos os recordes de aprovação não só nas ruas, mas também em Brasília. A taxa de governismo na Câmara beirava inéditos 90%. De cada 100 deputados, 88 obedeciam o líder de Lula sem piscar. Lava Jato era um lugar onde se lavava o carro, e as ações da Petrobrás valiam o dobro de hoje.
Tudo tinha a ver com o bolso - do eleitor. A cada mês, a massa salarial aumentava em R$ 1,5 bilhão com os salários recebidos pelos que haviam ocupado as novas vagas criadas no mercado de trabalho. A inundação de dinheiro alavancava financiamentos e multiplicava o consumo de massa.
A felicidade era uma calça nova, azul e desbotada, comprada no crediário. Dezenas de milhões de carros e motos tinindo paravam em lustrosos congestionamentos na saída das concessionárias. Na campanha sucessória de Lula, João Santana traduzia as estatísticas econômicas em imagens que sugeriam um Brasil de Primeiro Mundo na propaganda de TV. Parecia bom demais. E era.
Dilma herdou esse sonho paradisíaco de Lula e surfou a mesma onda de popularidade por dois anos e meio. Só não sabia - ou agiu como se não soubesse - que antes mesmo de ela sentar na cadeira presidencial o ponto mais alto da geração de empregos com carteira assinada havia sido ultrapassado. A curva era descendente desde setembro de 2010, mas ninguém queria acordar.
A cada novo mês do primeiro governo Dilma, o saldo de empregos acumulado nos 12 meses anteriores ficava cerca de 50 mil vagas menor, em média. Entre setembro de 2009 e agosto de 2010, o total de empregos formais aumentou em 2,3 milhões. Nos 12 meses anteriores a junho de 2013, esse saldo caíra para 667 mil vagas - uma queda de 70% em comparação ao auge de Lula.
Quem sofre mais quando o mercado de trabalho desaquece é quem está tentando entrar: o jovem - seja porque chegou à idade de trabalhar, seja porque seus pais perderam o emprego e não podem mais sustentar um estudante profissional em casa. E milhares de jovens tomaram as ruas de centenas de cidades brasileiras em junho de 2013 em intermináveis marchas sem rumo.
No susto, o governo acordou. Mexeu para lá, pedalou para cá e conseguiu inverter a curva descendente do Caged por alguns meses, a partir de agosto de 2013. Foi o suficiente para reeleger Dilma, mas a bicicleta do emprego formal logo perdeu o embalo de novo. Começou a desacelerar em 2014 como se alguém apertasse os dois manetes do freio ao mesmo tempo.
Em fevereiro de 2015, o que era saldo virou déficit - pela primeira vez na era petista. No acumulado de 12 meses, mais de 221 mil vagas foram fechadas. Multidões voltaram à rua, desta vez com objetivo claro: pedir o impeachment de Dilma. A perda de popularidade se traduziu em uma rebelião do Congresso. A taxa de governismo caiu a 64%, e a presidente virou refém do PMDB.
De maio de 2014 a abril de 2015, a economia brasileira perdeu 419 mil vagas e R$ 3 bilhões em salários. Só no mês passado, R$ 380 milhões deixaram de ser pagos. Pelo tamanho dos cortes anunciados, muitos mais vão perder o emprego no Brasil - e, se o ajuste não funcionar, também em Brasília.
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