terça-feira, 5 de maio de 2015

Vinicius Torres Freire - Ânimo nos endinheirados

• Clima no país despiora, Brasil fica barato e donos do dinheiro animam mercado financeiro em abril

- Folha de S. Paulo

Os donos do dinheiro grosso ficaram um pouco mais calminhos em relação ao Brasil, desde o início de abril.

Em algumas partes do mercado financeiro, houve até grande animação, caso da Bolsa, no nível mais alto em seis meses. O balanço de entradas e saídas de dólar no país, dito "fluxo cambial", foi o melhor também desde outubro de 2014. A taxa de juros real (juro futuro descontada a inflação esperada em 12 meses) está meio horrível, a mais alta desde meados de 2011, primeiro ano de Dilma 1. No entanto, de março para cá o juro real sobe mais porque a inflação esperada tem caído de modo considerável --menos pior assim.

No "lado real" da economia, o naufrágio continua. O comércio do Brasil com o exterior caiu 16% neste primeiro terço do ano (ante período igual de 2014), soube-se ontem. A importação de bens de capital baixou 12%, péssimo sinal, pois muito associada ao ritmo do investimento em equipamentos e instalações produtivas. Pelo andar da carruagem das importações, deveremos ter dados catastróficos de investimento em capital neste primeiro semestre (por ora, temos números até fevereiro).

Ainda assim, o ar anda menos empesteado pelos lados da finança. Passou mais um ciclo de especulação histérica com a data do aumento dos juros americanos, o que vem provocando tumulto por aqui desde maio de 2013. Porém, exceto na hipótese improvável de letargia da economia americana, haverá mais paniquito, talvez a partir de junho.

Por aqui, alguns medos e exasperações refluíram.

Colocou-se ordem mínima na Petrobras. Apresentou-se um balanço, com o que se afastou o risco de cobrança antecipada da dívida da empresa, o que levaria o governo já na pindaíba a cobrir os papagaios, um desastre.

Parece que o fim do mundo político foi adiado. O governo está no pântano com lama pelo nariz, mas parou de afundar, por enquanto, ao menos.

Na ausência de impeachment, "crise institucional", quebra da Petrobras e racionamentos de água e luz, o ar pareceu mais respirável. Considere-se também que o preço dos ativos brasileiros, ações em particular, estava em nível de fim de feira, ainda mais se cotados em dólares. O Brasil pareceu barato.

Em abril, entrou dinheiro "estrangeiro" como nunca na Bovespa, que voltou ao nível mais alto desde outubro de 2014. No trimestre encerrado em abril ou nos 12 meses contados até então, os não residentes puseram dinheiro como não o faziam pelo menos desde 2010.

Quanto a entradas de dólar, o resultado no trimestre encerrado em abril não era tão alto desde julho de 2013 (ainda faltando computar os dados da última semana de abril).

Depois da corrida histérica, pois rápida demais, até R$ 3,30, o preço do dólar recuou para a casa dos R$ 3, dando um pulinho nos últimos dias porque o Banco Central talvez reduza suas intervenções e porque, bidu, houve algum agito no mercado americano de juros. Mas dólar a R$ 3 e subindo aos poucos a partir daí é, para o conjunto do país, bom negócio. Trata-se de um nível de câmbio que pode daqui a um pouco dar algum impulso à economia por meio do aumento da produção de produtos exportáveis na indústria.

Sim, a coisa está feia. Mas, com tumulto na finança, poderia ficar pior.

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