sexta-feira, 26 de junho de 2015

César Felício - Os riscos de uma aliança antecipada

- Valor Econômico

• Rumo ao centro e ao nordeste, Alckmin deve buscar PSB

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, leva a fama de ser previsível, quando na realidade esta é uma característica de todo o PSDB. Assim como o partido chega dividido a uma sucessão presidencial desde o início do século, seus esboços de aliança também podem ser divisados à distância.

Quando o próprio Alckmin escolheu em 2002 como vice em sua chapa ao governo estadual o então pefelista Cláudio Lembo, já sinalizava para uma chapa presidencial de aliança com o PFL em 2006, como de fato ocorreu, ao ter como parceiro José Jorge na tentativa de impedir a reeleição do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

José Serra foi eleito governador paulista naquele ano tendo como companheiro o também tucano Alberto Goldman, e em 2010 tentou como pôde a chapa pura para a eleição presidencial, chegando a anunciar o senador Alvaro Dias (PSDB-PR) para a vaga de vice. Recuou de última hora para o então pefelista Índio da Costa, do Rio de Janeiro. Era um momento em que o PFL acelerava a sua trajetória declinante.

Desta vez, no governo paulista o vice de Alckmin é Márcio França, do PSB, um partido que ganhou corpo nas últimas eleições, mas que está sem liderança nacional desde a morte de Eduardo Campos, o candidato presidencial no acidente aéreo que completa um ano em agosto. Formalmente filiada ao partido, a ex-senadora Marina Silva está engajada na criação de outra sigla e claramente não é opção do PSB para 2018.

O PSB hoje, em termos de estrutura política, equivale em proporções reduzidas ao que foi o PFL em tempos passados. Tem alguma inserção no nordeste, onde já governou todos os Estados com exceção de Bahia e Sergipe e controla os governos de Pernambuco e Paraíba. Conta com boas perspectivas de crescimento no sudeste, caso de fato consiga atrair a senadora Marta Suplicy para a sigla e estruture a candidatura de Romário à Prefeitura do Rio.

Em certo sentido, é complementar ao PSDB. Não seria absurdo, do ponto de vista eleitoral, pensar em uma chapa presidencial encabeçada por um tucano do Sudeste e um integrante do PSB do Nordeste. Algo como Alckmin e Renata Campos, para fazer uma especulação livre. A eleição presidencial do ano passado mostrou que a diferença entre os dois polos eleitorais nunca foi tão estreita e uma pequena brecha que a oposição consiga cavar na área de hegemonia petista pode fazer a diferença. Na área "azul" do mapa geopolítico brasileiro, para se fazer uma referência à cor predominante na indumentária tucana, a sobrevivência do petismo é cada vez mais precária.

Para acumular tempo de televisão, Alckmin montou um secretariado que contemplou PV, DEM e PPS. Uma aliança com o PSB iria além: representaria ganhar densidade eleitoral e conferir à uma eventual candidatura do governador paulista um viés centrista. O aspecto de Geraldo Alckmin paulista demais e conservador demais o prejudicou em 2006, em uma lição que parece ter sido assimilada.

Na teoria, a parceria entre PSDB e PSB para 2018 é uma grande tacada, mas a estratégia está cercada de riscos que podem tornar um casamento desta natureza breve e fracassado. O primeiro obstáculo é a velocidade de mudança do cenário.

O desgaste do PT em função dos escândalos na política e da recessão na economia cresce de maneira tão rápida que a polarização que marcou todas as eleições presidenciais desde 1994 pode não sobreviver. Uma aliança PSDB-PSB poderia ser portanto algo análogo ao desastre proporcionado pelo exército da 3ª República da França em 1940.

A França havia construído a Linha Maginot, um conjunto de fortificações para barrar qualquer avanço bélico alemão. Os estrategistas franceses projetaram o futuro tendo como base o que havia acontecido no passado, mais precisamente na 1ª Guerra Mundial. Aquela foi uma conflagração marcada pela guerra de posições, em que soldados se matavam dentro de suas trincheiras por meses a fio.

Na 2ª Guerra, os franceses constataram que os alemães haviam mudado a tática para uma guerra de movimento e que, portanto, o escudo que ergueram para defender-se era inútil. Uma chapa PSDB/PSB faz menos sentido em um cenário multipolar.

Outro problema para a aliança está dentro dos dois partidos. Entre os tucanos, o grau de divisão pode levar a legenda a uma chapa própria para se fazer a composição interna. Foi o que ocorreu na eleição de 2014, quando Aloysio Nunes foi o vice de Aécio. O grupo do governador paulista deve assumir a presidência do partido em 2017, um componente estratégico no PSDB para definir a candidatura presidencial, mas Aécio tem a seu favor o "recall" da eleição passada e é sua pretensão em relação a permanecer no jogo presidencial que levou a bancada do PSDB no Congresso a radicalizar e partir para a oposição total. O atual presidente tucano terá menos instrumentos à mão para lutar pela candidatura presidencial quando deixar o comando da sigla, mas pode deixar armado um quadro que prolongue a indefinição dentro do partido até o ano eleitoral.

No caso do PSB, apenas Campos e seu avô, Miguel Arraes, conseguiam ser pragmáticos e manter a imagem de esquerda ao mesmo tempo. Com o desaparecimento dos caciques pernambucanos, o partido se dividiu entre pragmáticos, de um lado; e ideológicos, do outro.

Mesmo os pragmáticos no PSB estão divididos em várias vertentes. Existe a comandada por França, mas também o grupo pernambucano, que não necessariamente converge com o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg ou com o ex-deputado Beto Albuquerque, com grande ascendência no Congresso.

Este arquipélago não conseguiu se entender a respeito da frustrada fusão entre o PSB e o PPS, que já contava com a oposição dos ideológicos da sigla. A presença de França como vice já faz com que Alckmin tenha uma bandeira fincada no partido, mas isso não elimina a necessidade de pactuar com muito mais gente.

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