• Após ficar frente à frente por oito horas, doleiro e ex-diretor da Petrobras divergiram em diversos pontos
Germano Oliveira, Enviado Especial, e Thais Skodowisk* - O Globo
CURITIBA. A acareação entre o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa durou oito horas, sem que as principais divergências entre eles tenham sido resolvidas. Cada um manteve basicamente o que havia dito antes. O principal ponto de conflito entre os dois nem chegou a ser apreciado pelos delegados da Polícia Federal e Procuradoria da República que vieram de Brasília só para acompanhar a acareação. Eles resolveram marcar nova rodada de acareação só para resolver a polêmica entre os dois sobre a doação de R$ 2 milhões para a campanha da Dilma Rousseff em 2010.
O ex-ministro Antônio Palocci teria pedido o dinheiro para Paulo Roberto Costa, que confirma ter recebido o pedido. Mas Costa disse que mandou o doleitro Youssef dar o dinheiro a Palocci. É aí que vem a primeira grande contradição entre os dois. Youssef nega ter dado o dinheiro a Palocci e diz que nem conhece o ex-ministro. Na acareação desta segunda-feira seria uma oportunidade para dirimir essa dúvida, mas ela vai permanecer até a próxima rodada de acareação entre os dois. Segundo o advogado de Youssef, Tracy Reinaldet, todos já estavam cansados com a longa audiência e preferiram deixar para nova data, que ainda não foi marcada.
- Além do mais, o inquérito contra Palocci ainda está bem no início e os delegados da PF acharam melhor deixar isso para outra etapa. Tem também o aspecto de que a presidente Dilma não pode ser investigada por doações de campanha de 2010 - disse Tracy.
Uma das divergências que também não foram equacionadas é o pagamento de R$ 2 milhões para a campanha de Roseana Sarney (PMDB-MA) em 2010. Segundo a versão de Paulo Roberto Costa, o senador Edison Lobão (PMDB-MA) lhe pediu o dinheiro para ser usado na campanha de Roseana. Costa disse que mandou Youssef entregar o dinheiro a Roseana, mas Youssef diz que quem entregou o dinheiro não foi ele, mas o próprio Paulo Roberto Costa. Ficou um jogo de empurra.
- Chegou a haver um clima de tensão entre os dois, mas pusemos panos quentes, para evitar que os ânimos se exaltassem - revelou o advogado de Youssef, Tracy Reinaldet.
Uma divergência, no entanto, pode ser esclarecida, segundo o advogado.
- Na questão da compra de nafta pela Brasken, do grupo Odebrecht, os dois deixaram claro que houve pagamento de propina para o PP, de 1 a 3% dos contratos. Ambos chegaram à mesma versão, que antes era diferente. Agora os dois concordaram que houve o pagamento de propinas nessas contratos de nafta. E os dois citaram o nome de 17 deputados do PP que receberam as propinas nesse contrato. Não surgiu nenhum nome novo do PP. São os mesmos, como o Pedro Correa, o Nelson Meurer, etc, os que já estão denunciados pelo STF - explicou o advogado.
Assim, a acareação entre o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, na sede da Polícia Federal, em Curitiba, não mudou a essência do que cada um dos dois disso em suas delações premiadas feitas tanto na Justiça do Paraná, quanto no Supremo Tribunal Federal (STF) ao longo do ano passado. A acareação foi determinada pelo STF para esclarecer pontos divergentes do que cada um dos dois disse em suas delações premiadas e que envolve políticos com foro privilegiado.
A audiência, que não teve pausa nem para o almoço, começou às 10h e terminou às 18h, foi acompanhada por delegados da Polícia Federal de Brasilia e da Procuradoria Geral da República, também de Brasilia, coordenados pelo procurador Andrey Borges de Mendonça.
Segundo outro advogado de Youssef, Antonio Figueiredo Basto, os dois mantiveram suas versões iniciais e isso não significa que correm riscos de perderem as vantagens da delação premiada.
- Não houve nenhum modificação do perfil. Eles mantiveram integralmente suas versões, mas com o detalhe de que ambos estão imbuídos de falar a verdade. Mostra que não houve acerto entre eles para prejudicar ou ajudar quem quer que seja - disse Basto.
Ele revelou ao GLOBO que na acareação, Youssef confirmou que deu R$ 1 milhão para a campanha da senadora Gleisi Hofmmann (PT-PR), em 2010, a pedido do então ministro Paulo Bernardo.
- Foi o próprio Youssef quem fez o pagamento. No processo tem data e local de onde o dinheiro foi entregue- disse Basto.
Ele não acredita que os dois possam perder as garantias da redução de pena por causa das divergências que ainda não foram resolvidas.
- As delações são muito sólidas. E eles não ficaram só na palavra. Mostraram documentos e outros meios de prova. Os depoimentos isoladas teriam pouco valor jurídico, mas eles apresentaram provas inequívocas. Há também interceptações telefônicas e provas documentais. Não vejo como sustentar essa versão de que podem perder as garantias da colaboração premiada - afirmou Basto.
O advogado de Paulo Roberto Costa, João Mestieri, disse que hoje cedo o ex-diretor da Petrobras retorna à PF de Curitiba para nova rodada de esclarecimentos aos policiais federais e ao MPF de Brasilia, enquanto Youssef será inquirido na parte da tarde. Os dois falarão separadamente aos policiais para o esclarecimento dos pontos ainda divergentes entre os dois. Cada um dará sua versão dos fatos. Nesse caso, é possível que a questão do dinheiro para Palocci venha a ser colocado novamente.
Mestieri disse, ainda, que “como as divergências não eram grandes, também não foram grandes as surpresas”.
Paulo Roberto Costa, que está em prisão domiciliar no Rio, chegou a Curitiba na noite de domingo escoltado pela PF. Youssef já estava detido na carceragem da Polícia Federal de Curitiba. Hoje, Paulo Roberto Costa depõe ao juiz Sérgio Moro, na Justiça Federal do Paraná, na parte da tarde. Ele passou a noite de ontem hospedado num hotel no centro de Curitiba, com escolta da PF do Rio.
A Braskem reafirma que "todos os contratos com a Petrobras seguiram os preceitos legais e foram aprovados de forma transparente de acordo com as regras de governança da Companhia. É importante lembrar que os preços praticados pela Petrobras na venda de nafta sempre estiveram atrelados às mais altas referências internacionais de todo o setor, prejudicando a competitividade da indústria petroquímica brasileira".
*Especial para O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário