• Luiza Erundina e Ivan Valente, que deixaram o partido, apontam erros de Lula na condução do PT; tucanos fazem críticas
Pedro Venceslau – O Estado de S. Paulo
Para fundadores do PT que deixaram a legenda e petistas insatisfeitos com os rumos do governo da presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Iná- cio Lula da Silva tentou se eximir da crise vivida pela sigla em sua intervenção, feita ontem em tom de desabafo durante uma palestra em seu instituto.
“Não dá para ele se isentar e jogar toda a culpa no PT. Lula ainda é a principal liderança e foi o principal condutor desse processo, desde a origem até hoje”, afirma a deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP).
Uma das primeiras prefeitas de capitais eleitas pelo partido em 1988, quando venceu a disputa em São Paulo, Erundina deixou o partido em 1997 depois de um longo processo de desgaste interno por ter aceitado um cargo no primeiro escalão do governo Itamar Franco.
Para a deputada, ao afirmar que e o PT “perdeu um pouco a utopia” e que os petistas “só pensam em cargo”, Lula está refletindo um quadro grave vivido pelo País. “A fala dele foi um sintoma da falência do PT. E esse sintoma chega para mim com muito mais contundência”, concluiu a ex-prefeita.
Também integrante da primeira geração de dirigentes políticos do Partido dos Trabalhadores, o deputado Ivan Valente, hoje no PSOL, faz a mesma leitura.“Esse é um discurso para consumo interno no partido, mas o Lula não pode se eximir da responsabilidade pelo PT estar vivendo essa crise monumental.
O partido rebaixou o seu programa por orientação dele”, diz. O parlamentar também comentou a reclamação do ex-presidente sobre a redução drástica da militância espontânea petista que marcou a sigla antes da chegada ao poder.
“O maior responsável por tirar do PT o caráter da contribuição militante foi o próprio Lula. Foi ele quem implantou a lógica de ganhar eleição a qualquer custo”, conclui Valente.
Correlação de forças. Integrante da segunda maior corrente interna do PT, a Mensagem ao Partido,e membro do diretório nacional da sigla, o deputado Paulo Teixeira (SP) faz outra leitura das recentes autocríticas de Lula.“Há um sentimento de mudança no partido. A correlação de forças internas já mudou. A fala do ex-presidente converge para isso.
Teixeira se refere à redução da influência do chamado grupo majoritário que comanda o PT desde sua fundação e o consequente fortalecimento de correntes mais à esquerda no espectro partidário.
Já o senador Paulo Paim (RS) avalia que o discurso do ex-presidente corroborou um fenômeno que vem ocorrendo no partido desde a chegada ao poder central em 2003. “É lamentável que alguns setores do PT tenham se encantado com o poder. Tem gente com mais de 100cargosindicados”,diz o parlamentar. Paim deve mudar de sigla até o fim deste ano. Ainda segundo o senador, Lula “assumiu a responsabilidade” pela crise petista com seu discurso.
Tucanos. Os discursos recentes de Lula serviram de munição para os tucanos reforçarem a artilharia contra o PT. Para o senador Cássio Cunha Lima, líder tucano no Senado, o ex-presidente fez um “reconhecimento” tardio das mazelas petistas. Vice-presidente nacional do PSDB, o ex-governador de São Paulo Alberto Goldman vai além. “O Lula é realista e pragmático. Ele vê um quadro desastroso para o partido. ”Presidente do DEM, o senador José Agripino diz que as falas do ex-presidente são “o reconhecimento da falência do PT.
Nenhum comentário:
Postar um comentário