• 67% são contra instituto que possibilita recondução ao cargo, diz Datafolha
• Oposição ao voto obrigatório bate recorde histórico, mas modelo foi mantido na reforma política da Câmara
Ricardo Mendonça Editor-adjunto de "Poder" – Folha de S. Paulo
Pesquisa Datafolha mostra alterações contundentes de opinião da população a respeito de dois temas da reforma política, pacote hoje em discussão no Congresso.
Primeira: o apoio majoritário ao instituto da reeleição desapareceu. Segunda: a rejeição à obrigatoriedade do voto bateu o recorde da série de pesquisas a respeito.
O apoio maciço ao fim da reeleição é inédito. Na primeira pesquisa sobre o tema, em 2005, 65% foram a favor do direito do presidente concorrer a um novo mandato. Era véspera do ano eleitoral que teria o então presidente Lula concorrendo mais uma vez.
Dois anos depois, com Lula já reeleito, o apoio à reeleição recuou sete pontos, mas continuava sendo uma opinião compartilhada por mais da metade do eleitorado.
Agora, com a presidente Dilma Rousseff recém-reeleita batendo recorde de rejeição (65% a desaprovam), só 30% são favoráveis à reeleição.
Já os contrários pularam de 39% para 67% desde o último estudo. Opiniões sobre reeleição para governadores e prefeitos são quase idênticas.
"A rejeição a Dilma pesa, mas não só. Há um contexto muito forte de rejeição geral à política, que vem desde junho de 2013", diz o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino,
Na Câmara, a extinção da reeleição foi aprovada em maio pelo elástico placar de 452 votos a 19. Para vigorar, a regra precisa passar por nova votação na Casa e, depois, ser aprovada pelo Senado.
Outro resultado que coaduna com o sentimento de rejeição à política é o recorde de oposição ao voto obrigatório, que passou de 54% para 66% desde outubro de 2014.
O comportamento da Câmara, nesse caso, foi na contramão da opinião popular. A ideia do voto facultativo foi derrotada por 311 votos a 134.
O Datafolha também perguntou aos eleitores se eles iriam votar se não fosse obrigatório. De cada dez, seis responderam que não votariam.
É importante notar, nesse caso, que não se trata de uma opinião homogênea na sociedade. Se o voto fosse facultativo, são os mais pobres e os os menos escolarizados os que mais deixariam de votar.
Na fatia dos que têm renda familiar mensal acima de dez salários mínimos, 62% votariam mesmo se fosse opcional. Entre os que estão abaixo de dois salários, só 35% votariam. Diferenciação parecida ocorre na segmentação por escolaridade. Entre os que têm ensino superior, 56% votariam. No grupo dos que têm até o fundamental, 34%.
Nos Estados Unidos, onde o voto não é obrigatório, o fenômeno é conhecido. Os mais pobres têm, proporcionalmente, participação menor.
O Datafolha também perguntou sobre a alteração do tempo de mandato dos políticos. A maioria (53%) disse ser favorável a cinco anos para todos os cargos eletivos, como aprovado pela Câmara.
A pergunta feita pelo instituto, porém, pode ter contaminado parte das respostas, admite Paulino. Isso porque, antes de colocar a questão, os entrevistadores informavam aos entrevistados que "políticos eleitos têm um mandato de quatro anos, com exceção de senadores, que têm mandato de oito anos".
Assim, fica impossível separar os que responderam mais motivados pelo desejo de reduzir os mandatos de senadores daqueles que podem ter respondido motivados pelo desejo de aumentar os mandatos dos demais políticos com cargo eletivo.
O Datafolha ouviu 2.840 pessoas nos dias 17 e 18 de junho. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos.
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